Autor: André de Leones

A rarefação do luto

Há uma passagem de Altos voos e quedas livres em que o escritor inglês Julian Barnes, falando sobre a “perda de profundidade” inerente ao luto, aborda o seu aspecto, por assim dizer, contingenciador: a pessoa morta “não existe realmente no presente, e não inteiramente no passado, mas num tempo de verbo intermediário, o passado-presente”. A […]

Prenunciando a jornada derradeira

Norte é morte. Pynchon O Arco-Íris da Gravidade termina não com o lançamento do Foguete montado por Enzian e os hereros (00001), condenados, talvez, a flanar pela Zona (a Europa no pós-Guerra) com as diversas partes da Arma, sempre prestes a montá-la e dispará-la, flertando com a auto-obliteração e com uma vingança do Südwest, do […]

Pökler

“Todos andamos numa Elipse de Incerteza, não é?” Weissmann (p. 442) N’O Arco-Íris da Gravidade, o engenheiro químico Franz Pökler é um dos responsáveis pela construção do Foguete. Na verdade, como percebe sua esposa, a comunista Leni (que o abandona), o homem “era uma extensão do Foguete, muito antes de ele ser construído” (p. 415). […]

As velhas estrelas do país da Dor

Agora fantasmas amontoam-se sob os beirais. Pynchon N’O Arco-Íris da Gravidade, mais do que em qualquer outro romance de Thomas Pynchon (incluindo Mason & Dixon), eu me deparo com o Tempo compaginado à Palavra. O desenrolar do texto oferece uma panorâmica enevoada da primeira metade do século XX, sendo a Guerra (a segunda) o eixo […]

Treze

Filmes da minha vida. A lista é incompleta porque sou incompleto. ………… 0. Vá e Veja [Idi i Smotri] Elem Klimov, 1985 Um passeio na floresta. Aquele do qual nunca retornamos. ………… 1. Vidas Amargas [East of Eden] Elia Kazan, 1955 São duas da manhã e estou sentado no tapete, próximo da TV. Próximo demais, pois não […]

Distopia brutalista

Resenha publicada em 31.03.2013 no Estadão. Distopias são frequentes na literatura e no cinema. O sucesso de Jogos Vorazes, de Suzanne Collins, e, antes, de investidas tão díspares (e bem superiores) como as de Aldous Huxley (Admirável Mundo Novo) e George Orwell (1984), se dá porque vivemos em um status quo mais ou menos similar. […]

Na ausência absoluta

O diálogo final em True Detective me fez repensar a série toda, sob uma perspectiva diferente. Há uma conotação religiosa (na acepção mais pura — e deiforme — do termo) muito forte ali. A partir do que Rust diz a Marty, imaginei o caminho empreendido pelo primeiro como o de uma longa, atabalhoada e dolorosa […]

Livro sobre livros

  Quando o livro começa, as “lembranças ainda galopavam pelas ruas, dando tiros”. O avô da narradora é um político ligado a ninguém menos que Bárbara de Alencar, mãe de José Martiniano (pai do escritor) e Tristão Gonçalves, figuras importantes nas insurreições republicanas de 1817, a Revolução dos Padres, e de 1824, a Confederação do […]

"Acontece com todo mundo."

Excerto de Como desaparecer completamente [Rocco, 2010] Ela disse à colega que não se preocupasse: “Vou eu mesma buscar os livros.” Vestiu o casaco e, ainda no elevador, decidiu que iria caminhando. Meia hora, talvez menos. O único problema: subir até a Paulista. Um arco íngreme de concreto da José Maria Lisboa ao Trianon. Tênis […]