Categoria: Literatura

Crônica de devastações

Resenha publicada em 13.06.2014 no Estadão. Desde que estreou na literatura com No bosque da memória, agraciado com um prestigioso Edgar Award em 2008, Tana French vem se dedicando a esquadrinhar a fictícia Divisão de Homicídios da polícia de Dublin. Ela o faz alternando os narradores-protagonistas de suas longas e minuciosas narrativas. Porto Inseguro é […]

Cartografia humana

Resenha publicada em 07.06.2014 no Estadão. Em seu quarto romance, a londrina Zadie Smith ajoelha-se no asfalto da cidade, cola o ouvido no chão e, a partir do que escuta, traça uma bela cartografia humana. Desde o título, NW se refere a uma região específica da capital inglesa (Noroeste) e acompanha seus personagens enquanto eles […]

'2666' aos 10

Embora lamente muito a morte precoce de Roberto Bolaño, creio que 2666 não poderia ser outra coisa que não um romance inacabado. Sua qualidade tenebrosa, sobretudo no que tange aos corpos de mulheres horrendamente violadas e assassinadas que se amontoam em suas páginas, mas também às guerras europeias e ao nazismo (revisitados na derradeira parte), […]

Monteiro

Resenha publicada no Estadão em 17.05.2014. O romance Aspades ETs etc. foi o primeiro do também poeta e cineasta pernambucano Fernando Monteiro. Escrito em 1995, ano em que se celebrou o centenário do cinema, saiu primeiro em Portugal, em 1997, pela extinta Campo das Letras, e apenas em 2000 ganharia uma edição brasileira, pela Record. […]

A rarefação do luto

Há uma passagem de Altos voos e quedas livres em que o escritor inglês Julian Barnes, falando sobre a “perda de profundidade” inerente ao luto, aborda o seu aspecto, por assim dizer, contingenciador: a pessoa morta “não existe realmente no presente, e não inteiramente no passado, mas num tempo de verbo intermediário, o passado-presente”. A […]

Prenunciando a jornada derradeira

Norte é morte. Pynchon O Arco-Íris da Gravidade termina não com o lançamento do Foguete montado por Enzian e os hereros (00001), condenados, talvez, a flanar pela Zona (a Europa no pós-Guerra) com as diversas partes da Arma, sempre prestes a montá-la e dispará-la, flertando com a auto-obliteração e com uma vingança do Südwest, do […]

Pökler

“Todos andamos numa Elipse de Incerteza, não é?” Weissmann (p. 442) N’O Arco-Íris da Gravidade, o engenheiro químico Franz Pökler é um dos responsáveis pela construção do Foguete. Na verdade, como percebe sua esposa, a comunista Leni (que o abandona), o homem “era uma extensão do Foguete, muito antes de ele ser construído” (p. 415). […]

As velhas estrelas do país da Dor

Agora fantasmas amontoam-se sob os beirais. Pynchon N’O Arco-Íris da Gravidade, mais do que em qualquer outro romance de Thomas Pynchon (incluindo Mason & Dixon), eu me deparo com o Tempo compaginado à Palavra. O desenrolar do texto oferece uma panorâmica enevoada da primeira metade do século XX, sendo a Guerra (a segunda) o eixo […]

Distopia brutalista

Resenha publicada em 31.03.2013 no Estadão. Distopias são frequentes na literatura e no cinema. O sucesso de Jogos Vorazes, de Suzanne Collins, e, antes, de investidas tão díspares (e bem superiores) como as de Aldous Huxley (Admirável Mundo Novo) e George Orwell (1984), se dá porque vivemos em um status quo mais ou menos similar. […]

Livro sobre livros

  Quando o livro começa, as “lembranças ainda galopavam pelas ruas, dando tiros”. O avô da narradora é um político ligado a ninguém menos que Bárbara de Alencar, mãe de José Martiniano (pai do escritor) e Tristão Gonçalves, figuras importantes nas insurreições republicanas de 1817, a Revolução dos Padres, e de 1824, a Confederação do […]