Resenha publicada no Estadão em 05.12.2015. Há um belo momento de inflexão em A Resistência, já no terço final do romance, em que Sebastián, o narrador, fala sobre como está escrevendo o próprio “fracasso”, vacilando “entre um apego incompreensível à realidade – ou aos esparsos despojos de mundo que costumamos chamar de realidade – e […]
Categoria: Literatura
Notas sobre "A poeira da glória"
pelas pupilas gastas na inspeção contínua e dolorosa do deserto Drummond ::: No canto inferior esquerdo da capa de A Poeira da Glória, o editor teve a péssima ideia de colocar: “O livro que até mesmo o politicamente incorreto julgou imprudente”. Felizmente, o livro de Martim Vasques da Cunha não é algo assim leviano, e […]
Carpintaria narrativa
Resenha publicada em 23.10.2015 no Estadão. O escritor chinês Mo Yan (em português, “Não fale”; pseudônimo de Guan Moye) recebeu muitas críticas quando, em 2012, recebeu o Nobel de Literatura. O poeta Ye Du comparou seu conterrâneo a uma meretriz. Salman Rushdie chamou-o de fantoche do governo chinês, pois não assinara uma petição pela soltura […]
A queda em Mishima
Resenha publicada em 03.10.2015 no Estadão. Foi em 25 de novembro de 1970. Acompanhado por alguns membros de sua organização extremista (a Tatenokai, ou “Sociedade do Escudo”), o escritor Yukio Mishima (pseudônimo de Kimitake Hiraoka) invadiu um quartel-general do exército japonês, em Tóquio, e tentou convencer os soldados a dar um golpe de Estado. O […]
Chalámov
Resenha publicada em 29.08.2015 no Estadão. Em um pequeno “epílogo” à edição espanhola dos Contos de Kolimá, o tradutor Ricardo San Vicente traça uma diferença importante entre as literaturas de Varlam Chalámov e Fiódor Dostoiévski (1821-1881). Lembremos que o autor de Crime e Castigo também amargou um período como prisioneiro na Sibéria, condenado sob a acusação de conspirar […]
Exílio irredimível
Resenha publicada no Estadão em 25.08.2015. A temática do desterro se faz presente em boa parte da melhor literatura produzida (vide autores tão díspares quanto Sebald e Appelfeld), e é possível ler o novo romance de Luis S. Krausz como um autêntico representante dessa vertente. De fato, o ótimo Bazar Paraná talvez possa ser descrito […]
Narcisistas
Parafraseando Montale, o narcisismo pode até nos divertir, mas não nos comove jamais. Penso, claro, no péssimo artigo de Knausgård sobre Breivik, publicado na Piauí deste mês. A estupefação cega que o anima trafega pelas obviedades habituais: McVeigh, Arendt, o sentimentalismo torpe de programa televisivo dominical. Quando, após transcrever e descontextualizar um trecho de Eichmann em […]
Mar de chamas
Resenha publicada em 30.05.2015 no Estadão. Toda Luz Que Não Podemos Ver, segundo e premiado romance do norte-americano Anthony Doerr (1973), é uma bela façanha. Além de prender a atenção do leitor por mais de 500 movimentadas páginas, o livro é uma narrativa situada na Segunda Guerra Mundial que mantém o frescor e não tropeça […]
Perturbação
O formidável David Peace estreou na literatura com uma tetralogia policial animalesca, o quarteto de Yorkshire ou Red Riding Quartet: 1974, 1977, 1980 e 1983. Os romances foram publicados entre 1999 e 2002 e depois muito bem adaptados para a televisão britânica, em três partes (esta, esta e esta). A Benvirá lançou os quatro livros no […]
Houellebecq como sintoma do presente
Resenha publicada em 25.04.2015 no Estadão. “Submissão” é uma tradução literal de ‘islã’, e também o título do romance mais recente do francês Michel Houellebecq, originalmente lançado em meio à tormenta causada pelo atentado terrorista à redação do Charlie Hebdo. No livro, passado em 2022, acompanhamos a ascensão de um muçulmano ao poder na França e, […]