Há uma passagem de Altos voos e quedas livres em que o escritor inglês Julian Barnes, falando sobre a “perda de profundidade” inerente ao luto, aborda o seu aspecto, por assim dizer, contingenciador: a pessoa morta “não existe realmente no presente, e não inteiramente no passado, mas num tempo de verbo intermediário, o passado-presente”. A […]
Categoria: Literatura
Prenunciando a jornada derradeira
Norte é morte. Pynchon O Arco-Íris da Gravidade termina não com o lançamento do Foguete montado por Enzian e os hereros (00001), condenados, talvez, a flanar pela Zona (a Europa no pós-Guerra) com as diversas partes da Arma, sempre prestes a montá-la e dispará-la, flertando com a auto-obliteração e com uma vingança do Südwest, do […]
Pökler
“Todos andamos numa Elipse de Incerteza, não é?” Weissmann (p. 442) N’O Arco-Íris da Gravidade, o engenheiro químico Franz Pökler é um dos responsáveis pela construção do Foguete. Na verdade, como percebe sua esposa, a comunista Leni (que o abandona), o homem “era uma extensão do Foguete, muito antes de ele ser construído” (p. 415). […]
As velhas estrelas do país da Dor
Agora fantasmas amontoam-se sob os beirais. Pynchon N’O Arco-Íris da Gravidade, mais do que em qualquer outro romance de Thomas Pynchon (incluindo Mason & Dixon), eu me deparo com o Tempo compaginado à Palavra. O desenrolar do texto oferece uma panorâmica enevoada da primeira metade do século XX, sendo a Guerra (a segunda) o eixo […]
Distopia brutalista
Resenha publicada em 31.03.2013 no Estadão. Distopias são frequentes na literatura e no cinema. O sucesso de Jogos Vorazes, de Suzanne Collins, e, antes, de investidas tão díspares (e bem superiores) como as de Aldous Huxley (Admirável Mundo Novo) e George Orwell (1984), se dá porque vivemos em um status quo mais ou menos similar. […]
Livro sobre livros
Quando o livro começa, as “lembranças ainda galopavam pelas ruas, dando tiros”. O avô da narradora é um político ligado a ninguém menos que Bárbara de Alencar, mãe de José Martiniano (pai do escritor) e Tristão Gonçalves, figuras importantes nas insurreições republicanas de 1817, a Revolução dos Padres, e de 1824, a Confederação do […]
"Ele me chamou pelo meu primeiro nome"
“O pastor e o médico são o coração de toda comunidade”, diz a mãe do narrador em Americana. É o romance de estreia de Don DeLillo e a mulher está prestes a contar algo terrível a seu filho. O lugar da confidência e a imagem daquela que a profere são muitíssimo bem preparados. A mulher […]
O lado noturno
Resenha publicada em 07.02.2014 no Estadão. Se imaginássemos um filme baseado nos ensaios de O Rei se Inclina e Mata, ele talvez recorresse a um close no rosto da autora, a romena de origem e expressão alemãs Herta Müller, cuja voz ouviríamos lendo os textos sem que, contudo, os lábios se movessem. Ao se debruçar sobre […]
A guerra interminável
Textos publicados no Estadão, aqui & aqui, em 18.01.2014. Salinger, biografia do célebre autor norte-americano assinada por David Shields e Shane Salerno, oferece uma visão profunda daquilo que um dos biógrafos chama, a certa altura, de “um coração em queda livre”. Famoso pela reclusão a que se entregou por mais de meio século, justamente quando alcançava […]
Novo mundo
Resenha publicada no Estadão em 13.01.2014. Com as graças de São Sepé Tiaraju, dispomos agora do romance Quatro Soldados, de Samir Machado de Machado. Também autor da novela O Professor de Botânica, lançada em 2008, ele investe dessa vez numa viagem de ecos pynchonianos (e logo tal palavrão será explicado) à região sul do nosso continente, em […]