Texto originalmente publicado na revista Bravo! [ed. 186 – fevereiro, 2013] O início de A Hora Mais Escura se dá literalmente no breu. Não se vê nada na tela. Ouvem-se apenas alguns fragmentos de áudio, que o espectador identifica de imediato: são vítimas do 11 de Setembro falando, desesperadas, ao telefone. É por meio desse […]
Autor: André de Leones
Na estrada
Uma intensa movimentação caracteriza as páginas de Todos nós adorávamos caubóis, segundo romance da escritora gaúcha Carol Bensimon. As protagonistas, Cora (que também é a narradora) e Julia, empreendem uma viagem de carro pelo interior do Rio Grande do Sul. Mas, claro, há viagens e viagens. Há, por exemplo, viagens iniciáticas, quando a busca é […]
Jasmine enlouquece
Blue Jasmine é uma tragédia que só se revela enquanto tal por meio de uma reviravolta no último terço, quando a hybris da protagonista é explicitada. A questão é que toda a desgraça de Jasmine, enfocada na maior parte do tempo e até ali com uma leveza enganosa, foi causada por ela própria. E Allen […]
'República': drama da resistência
Este texto propõe um breve estudo da seguinte passagem (473d-e) do Livro V da República, de Platão: Se os filósofos não forem reis nas cidades ou se os que hoje são chamados reis e soberanos não forem filósofos genuínos e capazes e se, numa mesma pessoa, não coincidirem poder político e filosofia e não for […]
Beleza exausta
Resenha publicada no Estadão em 09.11.2013. A prosa descolorida de Rubem Fonseca reaparece com força nos contos de Amálgama. Desde já, ressalte-se que o termo “descolorida” não traz nenhuma crítica negativa, pelo contrário. A potência de alguns dos relatos que encontramos no livro deve tudo a essa aspereza tão cara à prosa do escritor. São […]
Década
Há exatos dez anos, eu finalmente conseguia terminar um conto que julguei publicável. E, de fato, ele está entre os que eu e meu então editor Flavio Izhaki selecionamos para Paz na Terra entre os monstros, lançado em 2008. A exemplo do meu primeiro romance, Hoje está um dia morto, que eu começaria a escrever […]
1921
Conheci Jack em 1921, no baile de 4 de Julho. Estávamos um pouco altos e não me lembro quem nos apresentou. A orquestra zurrava no salão de festas do hotel, todos esbarravam em todos e o inverno era algo muito distante. Não demorou para que Jack começasse a falar de suas veleidades literárias. As pessoas […]
No espaço intolerável da memória
Lemos em O Som e a Fúria, de William Faulkner (trad.: Paulo Henriques Britto, ed. Cosac Naify): “Quando a sombra do caixilho apareceu na cortina era entre sete e oito horas, e portanto eu estava no tempo de novo, ouvindo o relógio. Era o relógio do meu avô, e quando o ganhei de meu pai ele […]
Ainda sobre "Gravidade"
O sr. Daniel Feltrin veio com uma leitura interessante do filme de Cuáron: “Gravidade” como uma metáfora para a concepção (o impacto primeiro), a gestação (vide a posição fetal assumida pela protagonista quando finalmente adentra um lugar minimamente seguro) e o parto (a traumática reentrada), seguido pelos difíceis e incertos primeiros passos. Bonito pensar no […]
Até a luz
Spartacus é talvez o filme mais subestimado de Stanley Kubrick. É o único que ele realizou como diretor contratado (leia-se: pau-mandado de Kirk Douglas), e não são poucas as histórias sobre o quanto a produção foi excruciante. Mas, olhando exclusivamente para o filme, os acertos saltam aos olhos desde os estupendos créditos iniciais concebidos por […]