Categoria: Literatura

FW – notas (IV)

O sono oblitera o real: o olho se cala na indistinção final dos rumos. Orides Fontela, em Acalantos. ::: First we feel. Then we fall, diz Ana Livia Plurabelle no décimo-sétimo e último capítulo do romance. “Primeiro sentimos. Então falimos”, traduz Donaldo Schüler. E é disso que trata o desfecho: ela se desfaz no “vasto leitoazul-celeste”, […]

FW – notas (III)

::: A ideia de que, em/para uma primeira leitura, seja possível abordar o Finnegans Wake a partir de qualquer ponto ou capítulo me parece despropositada. Por mais que sua estrutura seja circular (olá, Giambattista) e o fim aponte para o começo, há um desenvolvimento narrativo que só é plenamente perceptível e apreciável por meio de leitura e […]

FW – notas (II)

::: Instaurada a cena (HCE), o segundo capítulo do Livro I trata de contaminá-la com o obsceno. Se, comparativamente ao diurno Ulysses, o Finnegans Wake se coloca contra o dia, o capítulo se põe/insurge contra a cena. É obscenus, mas também obscaenum, onde caenum remete à sujidade: no “nosso mais esplêndido parque”, HCE é confrontado por um sujeito de aspecto “luciferante”, alguém […]

FW – notas

::: Lendo Finnegans Wake, de James Joyce. Lendo Finnicius Revém (cinco volumes, alguns dos quais esgotados, ed. Ateliê), a tradução de Donaldo Schüler. Lendo, lendo, lendo. ::: A História como um pesadelo cíclico, confirmado pela própria estrutura do romance, um círculo completo que anoitece e amanhece conforme (ainda que disformemente) as quatro idades viconianas: teocrática, aristocrática, democrática […]

JD

Só vi hoje: na edição de janeiro do Cândido, um belo especial sobre J. D. Salinger, um dos preferidos nesta birosca, com textos de Roberto Muggiati e um bom & desprendido ensaio de Luís Augusto Fischer. Em 2014, quando do lançamento no Brasil da biografia Salinger, de Shane Salerno & David Shields, escrevi a respeito para o […]

Sunny Jim

Resenha publicada no Estadão em 16.04.2014. Antes de abordar Finn’s Hotel, e até para esclarecermos seu título, falemos um pouco sobre Nora Barnacle, a moça de Galway que fugiu de casa depois de levar uma surra de um tio, pois teria se engraçado com um rapaz protestante. Ela arranjou trabalho como camareira no Finn’s Hotel, em […]

Todos os dias, nós todos

Para a Kelly, meu riocorrente. Introibo. Para um estudo centrado no sexto capítulo do Ulysses de James Joyce (e no trecho correspondente da Odisseia de Homero), sugiro que leiam Hades, Glasnevin. Aqui, não me limito aos muros daquele cemitério, embora ainda esteja (em parte) preso à extensão do domínio da morte. 1. “Mamãe morrendo, volte.” May Joyce sofreu uma morte lenta, terrível. […]

Zoo literário

Texto publicado hoje pelo jornal O Popular. “Pode-se contar nos dedos de uma mão só o número de gente no mundo editorial que ainda respira”, diz o escritor Guy Ableman, narrador e protagonista de O Grande Zoológico, romance de Howard Jacobson lançado pela Bertrand Brasil no ano passado, com tradução de Regina Lyra. Ele tem […]

Do ponto de vista do inanimado

Texto originalmente publicado no Blog do IMS. Não é difícil imaginar o que levou David Cronenberg a adaptar o romance Cosmópolis (2003), de Don DeLillo. Talvez o cineasta canadense tenha se identificado com o tom hiperbólico da narrativa e com a sua recusa em investir numa levada realista para dar conta de um mundo ancorado […]