Você e eu somos reais, não somos?

Aldiss

David olhava pela janela. — Teddy, sabe no que é que eu estava pensando? Como é que a gente distingue as coisas que são reais das que não são?
O ursinho rearranjou suas alternativas. — Coisas reais são boas.
— E será que o tempo é bom? Eu acho que a mamãe não gosta muito do tempo. Outro dia, muitos dias atrás, ela disse que o tempo estava passando. Será que o tempo é real, Teddy?
— Os relógios marcam o tempo. Os relógios são reais. A mamãe tem relógios, logo ela deve gostar deles. Ela tem um relógio no pulso, ao lado do sintonizador.
David tinha começado a desenhar um avião no verso da carta. — Você e eu somos reais, não somos, Teddy?
Os olhos do ursinho encararam o menino sem pestanejar. — Você e eu somos reais, David. — Era especializado em oferecer conforto.

Brian Aldiss (1925-2017), falecido no último dia 19. Que descanse em paz.

O trecho é do conto Superbrinquedos duram o verão todo.
Tradução: Beth Vieira. Cia. das Letras, 2002.