Autor: André de Leones

Encruzilhada

“Quando a destruição de Israel teve início, Isaac Bloch estava se decidindo entre o suicídio e o exílio judaico”, escreve Jonathan Safran Foer logo no começo de Aqui Estou (Rocco). Estive diante de tal dilema em 2009. Optei por uma Guinness no pub hierosolimita Stardust e, tempos depois, citando Montale, enfim encontrei aquele modus moriendi que não […]

Nomes

Courier da Amazon entregou uma encomenda minha no endereço errado. O celular tocando há pouco, o porteiro de um prédio subindo a rua: “Vi seu número na nota fiscal, mas diga aí seu nome completo só preu confirmar, faz favor”. Eu disse. Ele riu. “Seu sobrenome é Leones, olha só.” “O que é que tem?” “Meu […]

Contra a banalidade

Há, na Piauí deste mês, um artigo enfadonho, invasivo e desajeitado sobre Thomas Pynchon. Poucas linhas sobre o que mais importa (os livros do cara) e parágrafos e mais parágrafos com historietas, fofocas e coisas do tipo para ao final dizer, paradoxalmente, que essas bobagens não interessam. Ou seja, a pessoa nem consegue ser coerentemente banal. […]

Candido, RIP

Antonio Candido faleceu. A pobreza anímico-conceitual de sua obra foi esmiuçada por Martim Vasques da Cunha em A Poeira da Glória, mais especificamente no capítulo “A invasão do abismo”, do qual transcrevo alguns trechos abaixo. “(…) Candido tem outras intenções ao criar a linhagem de sua ‘formação’. Ele não está preocupado com a literatura em […]

Pynchon 80

Thomas Pynchon completa oitenta anos hoje. É um dos prediletos nesta casa desde que, duas semanas antes do Natal de 2004, tropecei em um exemplar de O Arco-Íris da Gravidade. Foi na rodoviária de Goiânia. O exemplar estava com cinquenta por cento de desconto porque a livraria, prestes a fechar de uma vez por todas, […]

Fimnício

Terminei outro dia a leitura do Finnegans Wake, de James Joyce. Usei a edição da Penguin com introdução de John Bishop e a tradução de Donaldo Schüler lançada em cinco volumes pela Ateliê. Os posts que escrevi (links abaixo) são anotações feitas desorganizadamente no decorrer da travessia. Muito embora eu tenha lido o romance de forma linear […]

FW – notas (IV)

O sono oblitera o real: o olho se cala na indistinção final dos rumos. Orides Fontela, em Acalantos. ::: First we feel. Then we fall, diz Ana Livia Plurabelle no décimo-sétimo e último capítulo do romance. “Primeiro sentimos. Então falimos”, traduz Donaldo Schüler. E é disso que trata o desfecho: ela se desfaz no “vasto leitoazul-celeste”, […]

FW – notas (III)

::: A ideia de que, em/para uma primeira leitura, seja possível abordar o Finnegans Wake a partir de qualquer ponto ou capítulo me parece despropositada. Por mais que sua estrutura seja circular (olá, Giambattista) e o fim aponte para o começo, há um desenvolvimento narrativo que só é plenamente perceptível e apreciável por meio de leitura e […]

FW – notas (II)

::: Instaurada a cena (HCE), o segundo capítulo do Livro I trata de contaminá-la com o obsceno. Se, comparativamente ao diurno Ulysses, o Finnegans Wake se coloca contra o dia, o capítulo se põe/insurge contra a cena. É obscenus, mas também obscaenum, onde caenum remete à sujidade: no “nosso mais esplêndido parque”, HCE é confrontado por um sujeito de aspecto “luciferante”, alguém […]

Kentucky fried zombies

O apocalipse chegou ao EUA. Mais precisamente, à Universidade do Kentucky, em Lexington. Hoje, a professora Emanuelle Oliveira-Monte apresentou Zombie Apocalypse in São Paulo: Fantastic and Alterity in André de Leones’ Dentes negros. A fala integra o painel “The Fantastic in Brazil: An Exploration of the Political, Psychological, and Literary Implications of the Fantastic Genre, […]