Categoria: Coisas que a gente vê no escuro

Notas sobre “Cavaleiro de Copas”

::: Cavaleiro de Copas investe em uma fluidez que acentua exatamente a fragmentação e o esgarçamento de seus personagens. Terrence Malick radicaliza procedimentos fílmicos semeados em Árvore da Vida e regados em Amor Pleno. Elementos deste e daquele comparecem no longa de 2015, mas, no lugar da possibilidade da aceitação dolorosa dos silêncios de D’us (em […]

A ambiguidade do fogo

Martin Scorsese, que flertou seriamente com a possibilidade de se tornar padre antes de optar pela carreira de cineasta, levou décadas para viabilizar sua adaptação do romance Silêncio, de Shusaku Endo. É um filme no qual ele volta a (se) debater (diante de) questões teológicas de primeira ordem — inclusive no que, mal comparando, tal expressão remete […]

Fantasmas

Ontem vi O Gato Preto, de Kaneto Shindo. A exemplo de sua obra-prima Onibaba, temos aqui um filme que nos diz algo do horror intrínseco à própria História. No Japão medieval assolado por guerras entre os diversos clãs, duas mulheres são estupradas e mortas por um bando de ronins. Elas fazem, então, um pacto com o […]

Gloucester

Acho o filme dirigido por Richard Loncraine e lançado em 1995, com o estupendo Ian McKellen no papel-título, a melhor adaptação de Ricardo III, de Shakespeare. A peça fecha a primeira tetralogia histórica, que aborda a Guerra das Rosas (1455-1485), e é antecedida pelas três partes de Henrique VI. Depois, como se sabe, Shakespeare escreveu uma […]

A vida de Brian

Sempre amei o trabalho de cineastas capazes de construir filmes a partir de ideias puramente cinemáticas, desenvolvendo toda uma gramática visual que fundamente, antes de qualquer outro elemento (incluindo o roteiro), a história que se desenrola na tela. Alfred Hitchcock é o exemplo mais óbvio desse tipo de criador (e, não por acaso e para o […]

Círculos

1. O primeiro contato que tive com o cinema de Denis Villeneuve foi em 2011, com o lancinante Incêndios, seu quarto longa de ficção (também dirigiu curtas, programas de TV e um dos segmentos do documentário Happiness Bound). Desgostei dos dois filmes que ele lançou a seguir (algo me diz que preciso rever Os Suspeitos, mas O Homem Duplicado […]

Uma mesa muito velha, devorada por cupins

Há poucos anos, quando vi O Som ao Redor, longa de estreia de Kleber Mendonça Filho, escrevi sobre a sutileza daquele filme, sobre como ele desvelava (em vez de pontificar, discursar, panfletar) alguns aspectos do apartheid brasileiro e passeava, na maior parte do tempo de maneira invulgar, por esse enorme fosso em que todos vivemos. Infelizmente, não […]