Categoria: Literatura

Fome(s)

1. J R¹ é o segundo e premiado romance de William Gaddis. Lançado em 1975, vinte anos após sua estreia com o soberbo The Recognitions², é uma sátira selvagemente engraçada da América corporativa (“what America’s all about”, dizem vários personagens no decorrer do livro) e também uma reflexão pungente sobre o (não) lugar do artista no […]

Histórias sobre histórias

Versão estendida de uma resenha publicada n’O Popular. A voz do outro está aí desde sempre. Nós é que muitas vezes não nos dispomos a ouvi-la. Ela fala com a gente nas ruas e também por meio dos livros, dos filmes, da música etc. Basta prestar atenção. Com isso em mente, sugiro que atentemos para […]

Do silêncio armado

À memória de Aldair da Silveira Aires.    1. Na obra caudalosa do mato-grossense Ricardo Guilherme Dicke (1936-2008), o diabo não está “na rua, no meio do redemoinho”, mas surdamente exposto, nu e às vistas de todos, tomando os nossos olhos para si. Madona dos Páramos¹, romance maior do autor, é um épico da incompletude, […]

Dos reconhecimentos possíveis

— Mas você está… você está trabalhando. Você é um artista? — Sim, e vivi como um ladrão. 1. The Recognitions¹ é o romance de estreia do nova-iorquino William Gaddis (1922-1998). Quando de seu lançamento, em 1955, foi massacrado pela crítica (que, salvo por algumas raras exceções, nem se deu ao trabalho de ler o calhamaço de […]

Amóz Oz: uma despedida.

Texto publicado hoje no Estadão. Na obra de Amós Oz estão a violência intrínseca ao doloroso trabalho de parto do Estado de Israel e à sua manutenção nos moldes atuais, o “sonho bonito” dos primeiros tempos e a aridez de uma sociedade cindida. Longe de ser uma voz solitária ecoando desde o deserto, à beira […]

Vento, fogo e fumaça

Artigo publicado hoje n’O Popular. Gênero ou subgênero cinematográfico muito conhecido é o dos chamados road movies, em que o ato de se lançar na estrada, seja em fuga, seja em busca de algo, seja por qualquer outro motivo, funciona como uma espécie de elemento narrativo norteador, uma bússola ficcional a ser observada junto com […]

Begbie

Artigo publicado hoje n’O Popular. Para quem viu Trainspotting, célebre filme de Danny Boyle lançado em 1996, e para quem leu o livro homônimo de Irvine Welsh, o nome Francis Begbie é aterradoramente familiar. Ele não é viciado em heroína como seus amigos Renton, Sick Boy, Spud e cia., mas em violência. É aquele sujeito […]

Um reencontro marcado

Artigo publicado n’O Globo em 11.09.2010. A primeira vez em que ouvi falar de Ricardo Guilherme Dicke foi em 2002. Minha temporada em Brasília tinha chegado ao fim de maneira desastrosa e eu estava de volta ao aprazível interior de Goiás, perdido e meio, sem ter o que fazer e com aquela ideia um tanto […]

Depois do fim, antes do começo

Texto publicado no Blog da Rocco.   Há dez anos, quando dei Dentes negros por terminado, não imaginava que a névoa apocalíptica que nos rodeia se adensaria tanto. Bom, talvez eu pressentisse isso (quem não?), mas não me lembro de tecer aquela narrativa com os olhos tão arregalados para o mundo ao redor, imaginando que o degringolamento […]

Elogio da disfunção narrativa

Texto publicado na edição de julho do Jornal Rascunho.   Incomoda-me a noção de que, em um romance (ou filme, ou série, ou o quê), cada cena, diálogo ou passagem tem de, necessariamente, exibir uma “função narrativa”. É um vício muito disseminado pelas (más) oficinas (sic) de criação literária e que, em parte, é responsável […]