Categoria: Leituras

Folhas secas

Texto publicado n’O Popular em 07.03.2017. Há uma anotação nos diários do filósofo austríaco – naturalizado britânico – Ludwig Wittgenstein (1889-1951), datada de 06 de maio de 1931, que diz o seguinte: “Em Brahms, as cores do som da orquestra são cores das marcações do caminho”. Os diários dele, mantidos entre 1930-32 e 1936-37, vieram a […]

Zoo literário

Texto publicado hoje pelo jornal O Popular. “Pode-se contar nos dedos de uma mão só o número de gente no mundo editorial que ainda respira”, diz o escritor Guy Ableman, narrador e protagonista de O Grande Zoológico, romance de Howard Jacobson lançado pela Bertrand Brasil no ano passado, com tradução de Regina Lyra. Ele tem […]

Abertura(s)

Notas de leitura. Em A palavra “sagrada” de Hölderlin, Maurice Blanchot investiga o termo aberto desde os escritos do poeta alemão e conforme uma leitura de Heidegger do hino “Como num dia de festa”. No entender de Blanchot, o termo serviria para Heidegger ensejar uma interpretação da natureza (em Hölderlin) não como realidade particular ou “conjunto […]

Sula

“Se numa amora passares farinha, terás então um retrato de Sula.” Plutarco, Sula, 2. “(…) Quando Sula começou seu discurso descrevendo a vitória sobre Mitrídates, os senadores começaram a ouvir os gritos abafados dos prisioneiros samnitas. Sula continuou a falar, aparentando não se dar conta dos gritos. A certa altura ele interrompeu seu discurso e […]

Notas sobre “Graça Infinita”

No Brasil, o romance de David Foster Wallace foi traduzido por Caetano Galindo e rebatizado como Graça Infinita. Eu o resenhei para o Estadão (leia também AQUI ou AQUI), texto que reproduzo abaixo na primeira nota. As demais dizem respeito a coisas que me passaram pela cabeça enquanto navegava pelo calhamaço. São anotações-de-leitura. Algumas só farão sentido para […]

Paton

“É precisamente aí que sua importância deve ser encontrada para os dias atuais. Ele (Kant) acredita que um empirismo não mitigado destina-se a acabar num completo ceticismo, e que a única forma de evitar isso é considerar a atividade que pertence à razão em seu próprio direito. Em um tempo como o presente, quando o suposto conhecimento é reduzido à apreensão […]

Pais e filhos

::: Demorei muito para ler O Iluminado, de Stephen King, porque (diferentemente do autor) gosto bastante da adaptação cinematográfica de Stanley Kubrick. Eu sempre soube (porque me disseram) que o livro tinha outra pegada, mais aterrorizante, por um lado, e melhor resolvida (em termos estruturais), por outro. Quis conviver com o filme de Kubrick (visto […]

Da impossibilidade do vazio

O princípio básico da física cartesiana é o da constância da quantidade de movimento. Descartes entendia por matéria apenas aquilo que é extenso (res extensa). O mundo físico é, assim, inteiramente constituído por corpos. A realidade física é absolutamente homogênea. Não há espaços vazios (estes seriam ocupados por corpos invisíveis aos nossos olhos, ou ignorados pelos […]

Chalámov

Resenha publicada em 29.08.2015 no Estadão. Em um pequeno “epílogo” à edição espanhola dos Contos de Kolimá, o tradutor Ricardo San Vicente traça uma diferença importante entre as literaturas de Varlam Chalámov e Fiódor Dostoiévski (1821-1881). Lembremos que o autor de Crime e Castigo também amargou um período como prisioneiro na Sibéria, condenado sob a acusação de conspirar […]