Categoria: Leituras

FW – notas (II)

::: Instaurada a cena (HCE), o segundo capítulo do Livro I trata de contaminá-la com o obsceno. Se, comparativamente ao diurno Ulysses, o Finnegans Wake se coloca contra o dia, o capítulo se põe/insurge contra a cena. É obscenus, mas também obscaenum, onde caenum remete à sujidade: no “nosso mais esplêndido parque”, HCE é confrontado por um sujeito de aspecto “luciferante”, alguém […]

FW – notas

::: Lendo Finnegans Wake, de James Joyce. Lendo Finnicius Revém (cinco volumes, alguns dos quais esgotados, ed. Ateliê), a tradução de Donaldo Schüler. Lendo, lendo, lendo. ::: A História como um pesadelo cíclico, confirmado pela própria estrutura do romance, um círculo completo que anoitece e amanhece conforme (ainda que disformemente) as quatro idades viconianas: teocrática, aristocrática, democrática […]

Da palavra crua

João Gilberto Noll (1946-2017) “É o seguinte: eu sinto meus personagens como seres projetados do inconsciente para a tela. Como os pintores expressionistas, que costumavam projetar a tinta na tela, não preocupados de antemão com as significações daquilo. Se eu tiver alguma coisa a oferecer ao leitor, isso vem do fato de que eles – […]

À espera de Le Pen

Trecho de Ravelstein, de Saul Bellow: As coisas não chegam a acontecer se não acontecem em Paris, ou se Paris não fica sabendo. Aquela velha fornalha em erupção, Balzac, estabeleceu que isso era um princípio. O que Paris não havia examinado nem mesmo existia. É claro que Ravelstein conhecia demais o mundo moderno para concordar […]

Todos os dias, nós todos

Para a Kelly, meu riocorrente. Introibo. Para um estudo centrado no sexto capítulo do Ulysses de James Joyce (e no trecho correspondente da Odisseia de Homero), sugiro que leiam Hades, Glasnevin. Aqui, não me limito aos muros daquele cemitério, embora ainda esteja (em parte) preso à extensão do domínio da morte. 1. “Mamãe morrendo, volte.” May Joyce sofreu uma morte lenta, terrível. […]

Auster etc.

Paul Auster completa 70 anos de idade hoje. A Trilogia de Nova York, A Invenção da Solidão e Leviatã (numa edição estourada da BestSeller que achei em um sebo na W3-Sul) foram muito importantes para mim quando, aos dezenove, vinte anos, vivia sozinho num barracão no Guará II, no DF, rascunhava meus primeiros contos, tinha um emprego de […]

Folhas secas

Texto publicado n’O Popular em 07.03.2017. Há uma anotação nos diários do filósofo austríaco – naturalizado britânico – Ludwig Wittgenstein (1889-1951), datada de 06 de maio de 1931, que diz o seguinte: “Em Brahms, as cores do som da orquestra são cores das marcações do caminho”. Os diários dele, mantidos entre 1930-32 e 1936-37, vieram a […]

Zoo literário

Texto publicado hoje pelo jornal O Popular. “Pode-se contar nos dedos de uma mão só o número de gente no mundo editorial que ainda respira”, diz o escritor Guy Ableman, narrador e protagonista de O Grande Zoológico, romance de Howard Jacobson lançado pela Bertrand Brasil no ano passado, com tradução de Regina Lyra. Ele tem […]

Abertura(s)

Notas de leitura. Em A palavra “sagrada” de Hölderlin, Maurice Blanchot investiga o termo aberto desde os escritos do poeta alemão e conforme uma leitura de Heidegger do hino “Como num dia de festa”. No entender de Blanchot, o termo serviria para Heidegger ensejar uma interpretação da natureza (em Hölderlin) não como realidade particular ou “conjunto […]