Canto LXXXII

“cão de caça”: Sirius, estrela da constelação Cão Maior, visível a olho nu.

“Jeffers, Lovell…” etc. eram trainees no DTC.

“Swinburne (…) perda”: Pound admirava muito o poeta inglês Algernon Charles Swinburne (1837-1909) e dedicou a ele o poema “Salve O Pontifex” em A Lume Spento (1908). A “perda”, no caso, deve-se ao fato de que Swinburne ainda estava vivo quando Pound chegou à Inglaterra, mas o norte-americano não chegou a conhecê-lo.

“Landor” é o poeta e ensaísta inglês Walter Savage Landor (1775-1864), a quem Swinburne visitou duas vezes em 1864. As referências a Dirce remetem a um poema dele.

“o velho Mathews”: Elkin Mathews (1851-1921), editor inglês que publicou alguns dos primeiros trabalhos de Pound. É provável que a anedota sobre as visitas de Swinburne ao nonagenário Landor tenha sido contada por Mathews a Pound.

“Watts Dunton”: o escritor inglês Theodore Walter Dunton (1832-1914), que viveu com Swinburne e cuidou dele por trinta anos, de 1879 a 1909.

“Quando os pescadores…”: história contada por Swinburne ao poeta e crítico inglês Edmund Gosse (1849-1928), que escreveu The Life of Algernon Charles Swinburne (1917). Segundo Swinburne, certa manhã, em outubro de 1869, ele foi sozinho para Porte d’Amont, perto de Étretat, na Normandia. Ali, ele mergulhou na água e acabou levado pela corrente. Foi salvo pelo capitão de um barco pesqueiro, que o deixou em Yport (não em Le Portel, como Pound diz no poema), ao norte de Étretat. Assim que foi resgatado, Swinburne começou a “pregar” para os pescadores sobre as virtudes da democracia e do republicanismo, e recitou poemas de Victor Hugo (não Ésquilo, como também afirma Pound).

“Sobre o telhado dos Atridas”: citação de Agamêmnon, de Ésquilo. Trata-se de uma fala do guarda logo no início da peça. Na tradução de Trajano Vieira (ed. Perspectiva): “Aos deuses peço o fim de minhas penas, / frutode longos anos de vigia, / acocorado — um cão! — no teto atreu”. O guarda está no telhado à espera pela luz que anunciará o fim da guerra de Tróia.

“ΕΜΟΣ ΠΟΣΙΣ…ΧΕΡΟΣ / hac dextera mortus / morto por esta mão”: fala de Clitemnestra em Agamêmnon, de Ésquilo, após matar o marido. Na tradução de Trajano Vieira: “Ali tens Agamêmnon, / cadáver e marido. A justa artífice / foi minha mão direita. É esse o caso”. Pound está comparando o original grego e a tradução latina.

“creio que Lyton viu Blunt”: não, foi Sir William Gregory, marido de Lady Gregory, quem viu Blunt atuando como matador em uma arena madrilenha. Blunt, então, trabalhava como adido na embaixada britânica. Em resumo, Wilfrid Scawen Blunt (1840-1922) foi poeta, diplomata, viajante, defensor da independência da Índia, do Egito e da Irlanda (pelo que foi preso). Ele e sua esposa, Lady Anne Blunt (neta de Byron, filha de Ada Lovelace), viajaram pelo Oriente Médio e foram importantíssimos na preservação de certas linhagens de cavalos árabes em sua fazenda, Crabbet Arabian Stud.

“Packard”: o escritor canadense Frank Lucius Packard (1877-1942). O “Percy” citado é, claro, Percy Shelley.

“Basínio” é Basinio Basini, ou Basinio de Parma (1425–1457), erudito humanista e poeta, que viveu em Rimini a partir de 1450 sob a proteção e o patronato de Sigismundo. Ele é o autor de Liber isottaeus (três livros com dez elegias cada, escritos à maneira epistolar das Heroides de Ovídio, como uma troca de cartas entre Sigismundo e Isotta) e Hesperis (épico inacabado de 13 livros sobre as batalhas entre Sigismundo e a Casa de Aragão). Os “moldes gregos” são versos de Homero que ele anotava nas margens do que escrevia como inspiração melódica. Ele está enterrado em um dos sarcófagos no lado direito do Templo Malatestiano.

“Otis” é James Otis (1725-1783), que teria escrito uma gramática do grego e depois a destruído. “Soncino” é Hieronymus (Gershom) Soncino, editor judeu que se estabeleceu em Fano, em 1501, e fez muito para divulgar a literatura e o conhecimento humano, diferentemente dos “homens de mármore”, pessoas “importantes” cujas estátuas povoam as praças pelo mundo afora.

“assim rogaram ao Sr. Clowes (…) de Tom Moore e Rogers”: Clowes, da William Clowes and Sons, firma inglesa que imprimiu Lustra e Gaudier-Brzeska, de Pound. O tipógrafo achou que vinte e cinco dos poemas de Lustra eram “obscenos”, e o editor concordou com ele. Por fim, após muita negociação, conseguiram deixar “apenas” 17 poemas de fora, e Pound eventualmente lançou uma edição sem cortes. “Birrell” é o ensaísta inglês Augustine Birrell (1850-1933). Ele se refere ao irlandês Tom Moore (1779-1852) e ao inglês Samuel Rogers (1763-1855), poetas cujos trabalhos foram censurados.

“Sua Senhora IX” é, provavelmente, Lady Emerald Cunard (1872-1948), mãe de Nancy Cunard (v. Canto LXXX). “Sua Senhora Z” é Lady Churchill (Jennie Jerome), esposa de Lorde Randolph Churchill e mãe de Winston.

“Sr. Masefield”: John Masefield (1878-1967), poeta inglês, autor do polêmico The Everlasting Mercy (1911).

“18 Wodburn Buildings”: endereço londrino de W. B. Yeats.

“Sr. Tancredo” é o poeta imagista Francis W. Tancred. Pound traça uma conexão entre ele e o rei Tancredo da Sicília, morto em 1194. Alguns versos depois, “Williams” (“William”, no original) é W. B. Yeats, e “Fordie”, Ford Madox Ford.

res non verba“, “coisas não palavras”.

O ideograma “jen” significa “humanidade”.

“Tróia”, “Cnido”, “Mitilene”: a notícia da queda de Troia seria comunicada por uma série de luzes (grandes tochas, fogueiras ou coisa que o valha) gradualmente acesas nas ilhas gregas.

“Reithmuller”: Richard Henri Riethmueller (1881-c.1942), professor de alemão na Universidade da Pensilvânia e autor de Walt Whitman and the Germans (1906).

“‘Ó reflexão (…) palpitante'”: citação de “Out of the cradle endlessly rocking”, de Speare.

“O GEA TERRA (…) abril”: nesses versos, uma evocação altissonante do tema dionisíaco (Ceres, Ísis-Osíris) das metamorfoses. Morte e regeneração.

“ἐμὸν τὸν ἄνδρα”, reiteração de um verso presente no Canto LXXXI, ““Ἶυγξ…. ἐμὸν ποτὶ δῶμα τὸν ἄνδραde”: “Iynx (…) homem para a minha casa!” — o verso é de Teócrito, do “Idílio II”. A Iynx era um disco de madeira com dois furos no meio, nos quais se passava um cordão. Para fazer com que o disco girasse, bastava afrouxar e puxar o cordão. Ele era usado para atrair um amante. Leia o poema completo AQUI.

“connubium terrae (…) mysterium”, “o casamento da terra (…) mistério”.

Concomitantemente, Pound volta a citar a fala de Clitemnestra em Agamêmnon (1404), “ela disse meu marido”.

“ΧΘΟΝΙΟΣ”, “nascido na Terra”; “ΧΘΟΝΟΣ”, “da terra”; “ΙΧΩΡ”, “ícor”, o fluido que corre nas veias dos deuses gregos.

“δακρυωυ”, “chorando” ou “de lágrimas”; “ευτευθευ”, “então”.