Canto XXXI

Este e os três Cantos seguintes utilizam como base as cartas e outros escritos de Thomas Jefferson, John Adams, John Quincy Adams, Andrew Jackson, Martin Van Buren e outros políticos proeminentes para abordar o surgimento dos Estados Unidos e o desenvolvimento de seu sistema bancário. A citação do lema malatestiano (ver próximo parágrafo) serve para sublinhar Jefferson e Malatesta como indivíduos importantes nas histórias de seus respectivos países. Pound liga o “renascimento” italiano ao nascimento dos EUA, portanto.

“Tempus loquendi / Tempus tacendi”, “tempo para falar, tempo para calar”: o lema pessoal de Sigismundo Malatesta está gravado no Templo Malatestiano, sobre a tumba de Isotta degli Atti, e na Sala Malatestiana no castelo Gradara. A inspiração vem do Eclesiastes 3, 7: “tempo de calar, / e tempo de falar”.

“Sr. Jefferson”: Thomas Jefferson (1743-1826), autor da Declaração de Independência dos Estados Unidos e terceiro presidente do país (1801-1809). Nesse Canto, Pound traça um retrato de Jefferson a partir de suas cartas, além de utilizar duas missivas de John Adams e uma breve citação de James Madison. Os períodos enfocados (sem ordem cronológica) são anteriores e posteriores ao exercício da presidência por ele: 1785-1801 e 1811-1824.

“traje moderno para a sua estátua”: a citação é de uma carta de Jefferson para George Washington, quando este era presidente dos EUA e o primeiro, embaixador (“ministro”) em Paris.

“…..nenhum escravo ao norte do distrito de Maryland”: a linha de demarcação dos estados de Maryland, Pennsylvania e Delaware foi feita por Charles Mason e Jeremiah Dixon em uma expedição ocorrida entre 1763 e 1767. A linha Mason-Dixon passou a separar os estados sulistas e escravistas dos estados ao norte, os quais não possuíam escravos. O romance Mason & Dixon, de Thomas Pynchon, aborda (à maneira de Pynchon, claro) a história dessa expedição.

“Sr. Bushnell”: David Bushnell (1740-1826), inventor de Connecticut. Ele, de fato, inventou uma espécie de submarino movido a propulsão por hélice (o “Turtle”) em 1775.

“Sr. Adams”: John Adams (1735-1826), um dos Pais Fundadores e segundo presidente dos EUA (1796-1800). Junto com Jefferson e Franklin, concebeu a Declaração de Independência apresentada ao Congresso em Filadélfia no dia 26 de junho de 1776. Teve uma importância enorme na Guerra Revolucionária (ou de Independência, 1775-1783) e no estabelecimento do país, conseguindo financiamento nos Países Baixos em 1781-83. A história de Adams é contada em uma bela minissérie da HBO.

“Dr. Franklin”: Benjamin Franklin (1706-1790), claro. Em 1783, como plenipotenciário na França, foi um dos negociadores do Tratado de Paris (1783), que encerrou a Guerra Revolucionária.

“Tom Paine”: Thomas Paine (1737-1809), filósofo político inglês, foi também um ativista revolucionário. Seu panfleto Senso Comum (publicado na Filadélfia em 1776) inspirou os norte-americanos a lutarem pela independência. “Você manifestou o desejo…”: após 1800, Paine se desiludiu com Napoleão e expressou o desejo de deixar a França (onde vivia), no que foi auxiliado por Jefferson.

“Sr. Dawson”: John Dawson (1762-1814), advogado da Virginia e membro da Câmara dos Representantes dos EUA (equivalente à nossa Câmara dos Deputados). Foi enviado à França para receber a ratificação da Convenção de 1800 (ou Tratado de Mortefontaine), que encerrou a chamada “quase guerra” entre EUA e França.

“Maison Quarée”: Jefferson sugeriu que se usasse o templo romano de Nimes como modelo para o capitólio em Richmond.

“Com respeito a seus motivos…”: de um memorando de James Madison sobre Robert Smith (1757-1842), seu Secretário de Estado, para Jefferson. O documento é de 1811 e atesta a influência de Jefferson sobre a administração do país mesmo após apear da presidência. Ele também teve bastante ascendência sobre o sucessor de Madison, James Monroe.

“… desse país”: a Holanda; “Este país”: França.

“Sr. Beaumarchais”: Pierre Augustin Caron de Beaumarchais (1732-1799), diplomata e dramaturgo francês, apoiador de primeira hora da Revolução Americana. Supervisionou a ajuda secreta que a França deu aos norte-americanos na Guerra de Independência.

“Lafayette”: Marie Joseph Paul Yves Roch Gilbert du Motier, Marquês de Lafayette (1757-1834), aristocrata, militar e estadista francês, lutou ao lado dos norte-americanos na Guerra de Independência, atuando com distinção nas batalhas de Brandywine (setembro de 1777), Rhode Island (agosto de 1778) e Yorktown (outubro de 1781). Após retornar à França, apoiou a Revolução Francesa e, com a ajuda de Jefferson, auxiliou na escrita da “Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão” (1789).

John Quincy Adams (1767-1848), advogado, diplomata e estadista norte-americano, filho mais velho de John Adams e sexto presidente dos EUA (1825-1829). Era levado pelo pai em suas viagens e missões diplomáticas (a primeira foi em 1777, quando John Quincy tinha dez anos) como parte de sua educação.

“Turgot”: Anne Robert Jacques Turgot (1727-1781), economista liberal francês. “La Rochefoucauld”: François Alexandre Frédéric, Duque de la Rochefoucauld (1747-1827), filósofo, político e filantropo francês. “Condorcet”: Marie Jean Antoine Nicholas de Caritat, Marquês de Condorcet (1743-1794), filósofo, matemático e político francês.

“Sr. Barlow”: Joel Barlow (1754-1812), diplomata norte-americano. Na época dessa carta, estava a caminho de Paris para negociar um tratado comercial com Napoleão.

“Gallatin”: Abraham Alfonse Albert Gallatin (1761-1849), economista norte-americano de ascendência suíça, foi Secretário do Tesouro nos governos Jefferson e Madison.

“Adair”: James Adair (1709-1783), negociante na Geórgia e nas Carolinas, autor de The History of the American Indians, orde argumentou que os indígenas descendiam dos judeus.

“Mas observe que o público…”: sumário das opiniões de Jefferson sobre a dívida pública em uma carta para John Wayne Eppes, de 6 de novembro de 1813. Eppes (1773-1823), congressista e depois senador norte-americano, era genro de Jefferson.

“Homem, uma criatura racional”: anedota contada por Franklin e relembrada por Adams em carta a Jefferson.

“Sintagma de Gosindi”: Pierre Gassendi (1592-1655), filósofo, teólogo e cientista francês, autor de Syntagma philosophiae Epicuri (“A constituição da filosofia de Epicuro”, 1649), uma tentativa de harmonizar as visões epicurista e cristã.

Patrick Henry (1736-1799), orador e patriota norte-americano. Frank Lee (1734-1797), estadista norte-americano, signatário de Declaração de Independência. Henry Lee (1756-1818), soldado e estadista da Virginia, lutou na Guerra de Independência, foi membro do Congresso Continental e da Casa dos Representantes. “D. Carr”: Daubney Carr (1773-1837), jurista, sobrinho de Jefferson.

“tiel leis”: discutindo o livro de John Cartwright sobre as relações entre as leis eclesiásticas e comuns, Jefferson chama a atenção para um erro de tradução do francês antigo para o inglês (“ancien scripture” como “Sagrada Escritura”).

“Hic Explicit Cantus”, “Aqui termina o Canto”.