Cantos XVIII e XIX

CANTO XVIII

“Kublai”: Kublai Khan (1214-1294), neto de Genghis Khan [Temujin]. Estabeleceu a dinastia Yuan e se tornou imperador da China em 1271.

“Cambaluc”: Khanbaliq (“A Cidade do Khan”), capital de Kublai, construída entre 1264-1267 no lugar onde hoje fica Beijing.

“Messire Polo”: Marco Polo (c.1254-c.1324), viajante e mercador veneziano. Viajou para a China, chegando à corte de Kublai em 1275. Retornou para Veneza em 1295. No ano seguinte, foi preso pelos genoveses após a batalha naval em Curzola. Ditou suas memórias na prisão para Rusticiano di Pisa.

“Havia um garoto em Constantinopla”: Basil Zaharoff (1849-1936), um negociante de armas. Passou a juventude em Contantinopla. Zenos Metevsky, mencionado alguns versos depois, era um pseudônimo de Zaharoff. Em 1877, passou a trabalhar na firma de Thorsten Nordenfelt, onde permaneceu até 1927, lucrando horrores com todas as guerras que ocorreram no período.

“Bourienne”: Louis Antoine Fauvelet de Bourienne (1769-1834), diplomata e escritor francês, amigo próximo de Napoleão, a quem conheceu aos nove anos de idade, na academia militar de Brienne. Escreveu as Memoires, onde Napoleão (aos 12, como citado por Pound) expressa seu ódio aos franceses pela anexação da Córsega, em 1770.

“velho Biers”: pseudônimo de Hiram Maxim (1840-1916), engenheiro e inventor norte-americano. Desenvolveu uma metralhadora que fazia 600 disparos por minuto, a “Maxim Gun”. Ciente de que a arma similar oferecida pela Nordenfelt era inferior, Zaharoff mentiu para jornalistas e figurões, impedindo que Maxim vendesse sua arma. Paralelamente, convenceu Maxim e Nordenfelt a se juntarem, criando uma companhia maior, capaz de competir com os maiores fabricantes de armas da época. Assim, em 1888, nasceu a Maxim Nordenfelt Guns & Ammunitions Company. Nordenfelt se aposentou em 1890. Em 1897, Maxim vendeu a companhia para um de seus concorrentes, Vickers. A história da demonstração da metralhadora de Maxim em Viena é referida nos versos seguintes. Até o imperador estava presente na ocasião, e todos ficaram impressionadíssimos.

“E Metevsky morreu”: um inimigo de Zaharoff, Stephanos Xenos, escreveu no jornal ateniense Mikra Ephemeris que um condenado de nome Zacharias Basileios Zaharoff havia sido morto em uma tentativa de fuga da prisão de Garbola. Stephanos Skouloudis, um amigo de Zaharoff, conseguiu que exumassem o corpo e comprovassem, após o exame da arcada dentária, que se tratava de outra pessoa. (A história de que Zaharoff assistiu ao próprio funeral é apócrifa.)

“Humbers”: Vickers Ltd. “Mr. Giddings”: pseudônimo de um negociante de armas não identificado.

“La Marquesa de las Zohas y Hurbara”: pseudônimo de Maria del Pilar Antonia-Angela-Patrocinio-Simona de Muguiro y Beruete, Duquesa de Villafranca de los Caballeros. Zaharoff a conheceu em 1889, numa viagem noturna de trem para a Espanha. Ela estava em plena lua de mel. Católica, ela não conseguiu se divorciar, e eles passaram a se encontrar secretamente. Eles se casaram, afinal, em 1924.

“como Este a Luís XI”: Ercole d’Este teria dado um leopardo ao rei francês em 1479. Quanto a Zaharoff, é verdade que ele doou uma quantia significativa para o zoológico de Paris após a Grande Guerra.

“Gethsemane Trebizond Petrol”: o nome, claro, é uma invenção de Pound. Zaharoff criou companhias petrolíferas que aparentemente eram francesas, mas que, na verdade, eram controladas por ele e associados, mascarando interesses britânicos.

“Hamish”: pseudônimo de Taffy Fowler, um engenheiro cuja esposa conduzia um salão para jovens poetas e músicos em Knightsbridge, Londres, em 1908-1909.

“Melchizedek”: Gênesis 14, 18.

“Menelik”: Menelik II (1844-1913), imperador da Etiópia (1889-1913). Impediu que a Itália colonizasse a Abissínia em 1896, assegurando sua independência, e depois aumentou o território sob seu domínio. Tinha muito interesse em modernizar a região, trazendo serviços postais, linhas telefônicas e encanamentos modernos, além de construir uma ferroria entre Djobouti e Adis Abeba.

“Qu’est qu’on pense”, “O que as pessoas pensam.”; “Mais (…) Metevsky”, “Mas o que as pessoas pensam da metalurgia na Inglaterra, o que elas pensam de Metevsky?”

Pound encerra o Canto com a palavra “sabotagem”, que também vem a ser o termo que abre o Canto XIX.

 

CANTO XIX

“ele”: o inventor, o inovador, o sonhador “morto” (criativamente falando) pelas corporações.

“Qui se faisait si beau”, “Que era tão elegante.”

“o velho professor”: Tomás Masaryk (1850-1937), professor de filosofia, depois político e, então, primeiro presidente da então recém-criada Tchecoslováquia.

“homenzinho atarracado”: Arthur Griffith (1871-1922), fundador e líder do Sinn Féin. Pound se encontrou com ele em Londres, em 11 de outubro de 1921; por aqueles dias, Griffith negociava os termos do Tratado Anglo-Irlandês que estabeleceu a Irlanda como um estado livre.

“Prishnip”: pseudônimo dado por Pound ao mensageiro na história de Henry Wickham Steed (jornalista e historiador inglês, editor do Times entre 1919 e 1922) sobre como os soldados checos seriam auxiliados a debandar do exército austríaco para o russo, na Grande Guerra. “Vlettmann”: pseudônimo de Bernard Pares, conhecido de Steed que corroborou a tal história.

“Hé Sloveny”, “Salve os eslavos!”, canção bastante conhecida na região, usada como sinal (ideia de Steed) para que os soldados checos não fossem alvejados pelos russos ao debandar.

“Naphtha”, um termo antigo para “petróleo”. Trata-se de outra substância, obviamente, usada (por exemplo) como solvente.

“Das thust du nicht, Albert?”: Albert Mensdorff, o embaixador austríaco na Grã-Bretanha antes da grande Guerra. Quem pede a ele que “não faça isso” é seu tio. O ponto de interrogação é um erro de impressão da edição original, reiterado na tradução; deveria ser um ponto final.

“Inútil contar a eles…”: comentário do jornalista norte-americano Lincoln Steffens (1866-1936), que Pound cita aqui e ali (v. Canto LXXXIV/560). Steffens é referido alguns versos depois como “Steff”. Ele o conheceu por meio de Hemingway. Interessado em estudar revoluções, Steffend esteve primeiro no México, e depois foi para a Rússia.

“Governou (…) de um trem”: de fato, segundo conta Steffens, Venustiano Carranza (1859-1920) criou uma espécie de governo itinerante no México enquanto elaborava o que viria a ser a constituição do país.

“Tommy Baymont”: pseudônimo de um sócio minoritário do banco J.P. Morgan. Ele disse que seu chefe não tinha toda a influência que Steffens atribuía aos financistas. As ideias de Steffens sobre economia eram bem similares às de Pound.

“Sr. Wurmsdorf” – Conde Albert Viktor Julius Joseph Michael Graf von Mensdorff-Pouilly-Dietrichstein (1861–1945) era um diplomata austro-húngaro que serviu como embaixador em Londres no início da Primeira Guerra Mundial. Em uma conversa com Steed, tentou conseguir garantias de uma neutralidade britânica no caso de uma guerra entre Áustria e Sérvia. Embora pró-Áustria, Steed disse a Mensdorff que o Times não ajudaria a Áustria a “cometer suicídio”, explicando os custos que essa “pequena” guerra com teria para todos. As esperanças de Mensdorff deram com us burros n’água, uma vez que a Grã-Bretanha aliou-se à Rússia em 1907.

“o velho Ptierstorff”: Conde Alexander Konstantinovich Benckendorff (1849-1917), diplomata russo importantíssimo para a criação da Tríplice Entende e a participação da Inglaterra na guerra.

“dez anos”: a história sobre mulheres usadas como mercadoria barata foi contada a Pound pelo Capitão Baker, que também aparece no Canto XVI.