Canto IX

“Certo ano, chegaram as enchentes”: em 1440, Rimini sofreu com as enchentes.

“Certo ano (…) nevar”: 1444, saiu em meio a uma nevasca para auxiliar Sforza, provocando a rendição de Monte Gaudio.

“Certo ano, caiu o granizo”: 1442.

Astorrre Manfredi di Faenza: condottiere, inimigo de Malatesta e aliado de Federico da Urbino. A emboscada ocorreu no inverno de 1446-47, quando Malatesta passava pelas terras de Astorre, nas proximidades do Castello Rossi, ao voltar de uma campanha para Filippo Maria Visconti. Sigismundo começou a remodelar a igreja em 1446. Nela, colocou duas inscrições em grego nas quais afirma ter se prestado ao trabalho como agradecimento por escapado com vida dessa e de outras ameaças.

“E ele lutou em Fano”: cidade ao sul de Pesaro, outrora domínio do pai de Sigismundo. Em novembro de 1431, houve uma rebelião em Fano. O líder era o padre Don Matteo Buratelli de Cuccurano. Sigismundo acorreu à cidade com trezentos homens, mas quase foi morto nas ruas. Dada a falta de apoio da população de Fano à rebelião, Don Matteo se rendeu e foi enforcado em Rimini.

“E veio o imperador…”: Em 1433, Sigismundo V da casa de Luxemburgo (1368–1437) viajou a Roma para ser coroado pelo papa. Ao retornar, visitou Rimini, onde foi recebido com toda a pompa, e tornou Sigismundo e Domenico cavaleiros. Esse evento influenciou o afresco de Piero della Francesca no Templo Malatestiano, no qual Sigismundo está de joelhos, rezando para seu santo padroeiro.

“… e nos armou”: no original, “knighted us”, isto é, tornou-os cavaleiros. Quem narra é Domenico, irmão de Sigismundo. Pound os apresenta como companheiros, embora, na vida real, tenham entrado em conflito diversas vezes.

“Basínio” é Basinio Basini, ou Basinio de Parma (1425–1457), erudito humanista e poeta, que viveu em Rimini a partir de 1450 sob a proteção e o patronato de Sigismundo. Ele é o autor de Liber isottaeus (três livros com dez elegias cada, escritos à maneira epistolar das Heroides de Ovídio, como uma troca de cartas entre Sigismundo e Isotta) e Hesperis (épico inacabado de 13 livros sobre as batalhas entre Sigismundo e a Casa de Aragão). Ele está enterrado em um dos sarcófagos no lado direito do Templo Malatestiano.

“Madame Ginevra”, Ginevra d’Este (1418–1437), filha de Parisina d’Este e primeira esposa de Sigismundo. Casaram-se em 1434 e tiveram um filho, morto ainda bebê. Ginevra morreu aos 22 anos. Pio II acusou Sigismundo de tê-la envenenado.

“Rocca”: o Castelo Sismondo, a cidadela de Rimini, que Sigismundo construiu no lugar de uma fortaleza mais antiga, entre 1437 e 1446.

“Monteluro”: batalha travada em 8 de novembro de 1443, em que Sigismundo combateu como aliado de Sforza contra uma coalizão liderada por Niccolo Piccinino, Federico d’Urbino e o próprio Domenico Malatesta, que lutavam em nome do papa.

“16 de março”: data do contrato firmado entre Galeazzo, o Inepto, Alessandro Sforza e Federico d’Urbino, pelo qual Galeazzo vendeu Pesaro para Sforza e Fossombrone para Federico.

Alessandro Sforza: irmão de Francesco e Lorde de Pesaro por meio de seu casamento com a sobrinha de Galeazzo, Constanza, em dezembro de 1444.

“Fedricho d’Orbino”: Federico da Montefeltro (1422–1482), Lorde de Urbino e grande inimigo de Malatesta.

“bestialmente”: caracterização de Gaspare Broglio, amigo de Sigismundo.

“Rei de Ragona”: na primavera de 1447, Sigismundo foi contratado por Alfonso, Rei de Aragão, em uma aliança com Milão, o papado e Nápoles contra Veneza e Florença. Como o rei não pagasse o que devia a Sigismundo, ele trocou de lado e, em dezembro, assinou uma condotta com Florença. Sendo uma decisão importante, ela foi debatida no conselho da cidade. Valtúrio aconselhou Sigismundo a lutar por Florença e não devolver o dinheiro já recebido de Alfonso, conselho considerado temerário por alguns. De fato, embora contratualmente não fosse “errada” ou “condenável”, e até algo comum entre os condottieri, o fato de ofender um rei teria contribuído para a queda da Casa de Malatesta. Ou seja, politicamente falando, foi uma decisão desastrosa.

Roberto Valtúrio (1414–1489), humanista italiano. Após dez anos lecionando retórica e poesia em Bologna (1427-37) e outros dez anos como secretário apostólico, tornou-se conselheiro de Sigismundo em 1446. Valtúrio é o autor de De Re Militari, escrito em latim entre 1446-1455 e impresso em 1472. O livro é uma compilação de fontes clássicas, mas Sigismundo gostava bastante dele. Contém muitas ilustrações de armas e cercos atribuídas a Matteo da Pasti. Valtúrio está enterrado em um dos sarcófagos na parte exterior do Templo.

O “velho calculoso” é Pio II, responsável pela péssima reputação que Sigismundo teria nos séculos subsequentes; “rem eorum saluavit”, “isso salvou a causa deles”. Trata-se de uma paráfrase do que escreveu Pio II em seus Comentarii: “nec dubium quio ea Sigismundi proditio rem Florentinam salvaverit”, “sem dúvida, a traição de Sigismundo salvou a causa florentina”.

“Polixena”, Polissena Sforza (1428–1449), filha de Francesco Sforza e segunda mulher de Sigismundo.

“E o velho narigudo-narigudo (…) Milão”: a cidade se rendeu a Sforza em 1450 e ele se tornou o Duque, encerrando a guerra pela sucessão iniciada em 1447. “E ele falou sobre isso com Feddy”: Federico de Montefeltro. Embora tenha tomado a cidade, Sforza ainda era alvo de ataques, sobretudo dos venezianos, que usavam os serviços de Sigismundo (daí a carta enviada a Giovanni de Médici, v. VIII). Francesco fez com que Sigismundo rompesse os laços com Veneza (contrariando os alertas e promessas do “velho Foscari”, Francesco Foscari (1373–1457) Doge de Veneza) ao lhe prometer ajuda militar para cercar Pesaro. No entanto, ao chegar lá, descobriu que Francesco o traíra, enviando ajuda militar não para ajudá-lo, mas para defender a cidade. Aqui, além da artimanha de Sforza, há alusões à depredação e ao roubo da Basílica de São Apolinário, em Classe (perto de Ravena), e ao estupro e assassinato de uma jovem alemã em Verona (pelo qual Pio II acusou Sigismundo (outra calúnia, provavelmente); o perpetrador nunca foi pego). Os “casos” são esmiuçados nos versos seguintes: “Casus est talis”, “o caso é o seguinte”.

“Filippo, comendatário”: Filippo Calandrini (1403-1476), irmão do papa Nicolau V e Cardeal de Bologna, responsável pela abadia. No entanto, a espoliação ocorreu em 1448, antes que Calandrini assumisse o posto (o abade era Luigi dal Pozzo, referido em seguida como “Aloysius Purtheo”; ele teria recebido uma compensação de Malatesta pelo ocorrido).

“Santa Maria de Trivio”, igreja construída em Rimini no século IX, reformulada para se tornar a Igreja de São Francisco no século XIII e, depois, o Templo.

“Poliorcetes”, “POLUMETIS”: “tomador de cidades” (ref. a Demétrio, Rei da Macedônia), “multiversátil” (alusão a Odisseu).

“m’l’ha calata”, “ele me enganou”.

“Vada”: alusão à vitória de Sigismundo contra as tropas de Aragão em 1453. Ele, de fato, combateu na lama.

“Até que ele pactuou com Siena”: após a Paz de Lodi, em 1454, os trabalhos militares se tornaram escassos para Sigismundo. Ele foi contratado por Siena para lutar contra o Aldobrandino Orsini (1420–1472), Conde de Pitigliano, que tomara a fortaleza de Sorano. Sigismundo não levou o trabalho a sério (talvez por pena de Orsini, como sugere Pound), daí os “dois montes de tufos”. Como o cerco se prolongasse, Siena desconfiou que Sigismundo estivesse de conluio com Pitigliano e contratou outros condottieri para ajudá-lo. Por fim, Sigismundo fez uma trégua com Pitigliano e o cerco terminou. Agora convencidos de sua traição, os senenses atacaram seu quartel-general e tomaram sua mala postal, que continha em torno de cinquenta cartas. Destas, oito são citadas por Pound (a partir de Yriarte).

“E os pobres-diabos (…)”: a verdadeira razão pela qual o cerco chegou ao fim; os soldados estavam em péssimas condições.

“Ex Arimino (…) singularissime”, “De Rimini, 22 de dezembro, magnífico e poderoso, meu excelentíssimo senhor”: primeira das cartas citadas no Canto, de Matteo Nuti, arquiteto enviado por Malatesta Novello para ajudar na construção do Templo enquanto Alberti estivesse fora.

“… mestre Alwidge”: Luigi Alvise, supervisor dos carpinteiros e pedreiros na construção.

“Jhesus / (…) Mio”, “magnífica excelência, meu senhor”: eis a segunda carta, escrita pelo filho de Alvise (com o pai ditando). O “Sr. Genaro” mencionado é Pietro di Genari, chanceler de Sigismundo e supervisor das obras no Templo. “Sagramoro” é Jacopo Sagramoro da Soncino, secretário.

“Illustre (…), “meu senhor ilustre”: terceira carta, de 17 de dezembro de 1454, escrita por Matteo da Pasti e Pietro di Genari. “Messire Battista” é Leon Battista Alberti (1404–1472), arquiteto do Templo Malatestiano, cujo projeto inicial não foi levado a cabo por conta dos problemas financeiros e políticos de Sigismundo, sobretudo a partir de 1455. Como estivesse a serviço do papa Nicolau V, Alberti foi chamado de volta a Roma e deixou o trabalho sob responsabilidade de mestres de obras locais. Não custa reiterar que o Templo permanece interminado até hoje.

“MONSEIGNEUR”: quarta carta, de 21 de dezembro de 1454, ditada por Isotta para a sua secretária, na qual relata seu encontro com a filha de Galeazzo, amante de Sigismundo. “Mi pare che avea decto hogni chossia”, “Parece-me que ela disse tudo”.

“sagramoro (…)”: referência à carta do dia 17/12, citada acima. Sagramoro, secretário de Sigismundo, precisava de dinheiro.

“Messire Malatesta”: Malatesta de Malatestis (1449–1458), filho de Isotta e Sigismundo. Lunarda da Palla era o tutor do menino. Esta é a carta de número cinco, de 20 de dezembro de 1454.

“‘… inspencionando (…) os muros de…'”: trechos da carta de 17/12. “Magnifice ac potens”, “magnífico e poderoso”.

“Malatesta de Malatestis ad Magnificum Dominum Patremque suum”, “Malatesta de Malatestis para seu magnífico senhor e pai”: saudação da carta de 22 de dezembro de 1554 (sexta carta).

“Ilustrissimo… Anibal”: sétima carta, de 18 de dezembro de 1454, do poeta Servulo Trachulo. Nela, o poeta aconselhava Sigismundo a ganhar tempo com os sieneses até que estivessem divididos. Foi uma das provas que eles usaram para acusá-lo de traição. Aníbal (247–183 a.C.), general cartaginense, era um dos modelos de Sigismundo. Não por acaso, ele usava elefantes como emblema e se dizia descendente de Cipião Africano (m. 183 a.C.), que derrotou Aníbal na Batalha de Zama (202 a.C.), encerrando a Segunda Guerra Púnica.

“Magnifice ac potens domine (…) premissa”, “Magnífico e poderoso senhor, meu mais estimado, envio minhas mais humildes saudações”: oitava carta, de 18 de dezembro de 1454, escrita por Pietro di Genari.

“et amava perdutamente”: tradução para o italiano de “perdite amaverat”, que significa literalmente “amava livremente”, isto é, fora do casamento. A expressão foi usada pelo cardeal Jacopo Ammanati para se referir a Isotta, amante e depois terceira esposa de Sigismundo; “ne fu degna”, “foi digna [de seu amor]”; “constans (…) grata”, “firme em sua resolução / ela agradou aos olhos do princípe / adorável de ser contemplada / querida pelo povo” (Yriarte citando Pseudo-Alessandro); “Italiaeque decus”, “e a honra da Itália” (referência à Eneida XI, 508, “O decus Italiae virgo”; daí Matteo da Pasti ter gravado na medalha colocada sobre a tumba de Isotta, “Isote Ariminensis. Forma et Virtute Italie decori” (e, do outro lado, o elefante malatestiano); essa medalha foi coberta por uma placa de bronze com outra inscrição (“D Isottae Ariminensi BM sacrum MCCCCL”), mas descoberta posteriormente.