O “lago” citado é, mais uma vez, o Garda. E, depois, a “arena” de Verona (e seus “gradins”), já mencionada antes.
“Pernella concubina”: Penelope ou Penella Orsini, prima e amante de Aldobrandino Orsini, conde de Pitigliano (1420-1472). Os eventos reproduzidos no Canto ocorreram em 1465. Pound se refere aos herdeiros “ainé”, “mais velho”, Niccolò II Orsini (1442-1510), conde de Pitigliano, e “puiné”, “mais novo”, Lodovico Orsini (1444-1465), este envenenado a mando de Penella (que queria favorecer seu próprio filho). Aldobrandino culpou os senenses pelo assassinato de Lodovico, e prendeu sem quaisquer provas dois cidadãos de Siena que estavam em Pitigliano, iniciando outro conflito entre as cidades. Por sorte, o papa interveio e as hostilidades cessaram. Então, o pajem que, seguindo as ordens de Penella, envenenou Lodovico confessou o crime para Niccolò. Este matou Penella e deu início a uma rebelião para tomar o poder. Aldobrandino já aparece nos Cantos IX e X.
“evitando o bando de tritões”: Eleutéria, ninfa criada por Pound (v. Canto II), transforma-se em coral para escapar do assédio dos tritões. No verso anterior a esse e nos seguintes, alusões a locais em Roma (Via Sacra, Circus Maximus/”hipódromo”).
“Liberans et vinculo ab omni liberatos”, “libertos e livres de quaisquer grilhões”: referência à libertação dos escravos por Cunizza (1198-1279), referida no Canto VI. Nobre italiana, irmã de Ezzelino III (1194-1259) e Alberico da Romano (1196-1260), ela libertou os escravos dos irmãos em 1º de abril de 1265. A alforria foi lavrada em Florença, na casa de Cavalcante dei Cavalcanti, pai de Guido. Já idosa, ela viveu na casa dos Cavalcanti, nos anos de formação do jovem Guido. No Paraíso IX, 13-66, Cunizza aparece como uma figura de beleza e amor na esfera de Vênus. Ela teve uma vida amorosa atribulada, tendo fugido com Sordello e sido amante de Bonius, um cavaleiro — fatos citados mais adiante no Canto, incluindo o casamento dela com Ricardo São Bonifácio. Picus de Farinatis, Don Elinus e Don Lipus assinaram como testemunhas no termo de alforria. Eles eram filhos de Ghibelline Farinata degli Uberti (1212-1264), que Dante colocou no Inferno X, 31-50.
“Castra San Zeno”: o castelo de San Zeno, localizado nas montanhas entre Bassano e Asolo. Cunizza refere-se ao cerco desse castelo pelas forças conjuntas de Verona, Vicenza, Pádua e Mântua, em 1260. O castelo foi defendido por Alberico da Romano, até este ser traído. Alberico teve de assistir ao massacre da própria família antes de ser executado. A ira de Cunizza é reservada àqueles que traíram o irmão; ela não quer libertá-los a princípio, mas acaba fazendo isso (depois os amaldiçoá-los).
“nimium amorata in eum”, “muito apaixonada por ele”: Bonius, ou Enrico Bonio, cavaleiro, juiz e procurador de Treviso (referida por Pound como “Tarviso”), casado quando se envolveu com Cunizza. Eles saíram em uma longa viagem, e só retornaram quando Alberico comandava a cidade. Pouco depois disso, Bonius morreu defendendo Treviso.
“A luz daquela estrela me domina”: parte da fala de Cunizza para Dante (Paraíso IX).
“Dizia Juventus”: referência à peça Lusty Juventus, peça do século XVI escrita por Richard Wever.
“o-hon dit…”, “ce qu’on dit au village”, “o que estão dizendo na vila (ou cidade, vilarejo etc.)”.
“nuvoletta”, “nuvenzinha”.
“Wein, Weib, TAN AOIDAN”: “vinho, mulher [em alemão], e música [em dialeto dórico]”. O dito é usualmente referido inteiro em alemão: “Wein, Weib, und Gesang”.
“Ailas e que’m fau (…) vuelh”, “Ah, que há de bom em meus olhos/ Que não veem o que quero ver” (tradução libérrima): de um poema de Sordello, “Er, quan renovella e gensa”. Creio que as expressões em italiano nos versos seguintes são bem evidentes. E, então, outra em francês: “Des valeurs…”, “valores em nome de Deus, e de novo valores”.
“Arnaut”: no caso, trata-se de Eliot, que confessou a Pound tal medo quando, no verão de 1919, eles visitavam o castelo de Excideuil. Na Comédia, Dante retrata Arnaut Daniel no Purgatório, entre os luxuriosos. Eliot tinha uma relação atormentada com o desejo sexual, para ele sinônimo de pecado — tanto que fez um voto de castidade em 1928.
“nondum orto jubare”, “luz (que) ainda não nasceu”: na tradução, Grünewald escreve erroneamente “nundum”; trata-se de um fragmento da mais antiga alba provençal escrita. Alba é uma canção da aurora, e essa dataria do século X.
“A torre, marfim…”: variações de versos do Canto XI (123-28). “Phoibos”, claro, é Febo Apolo. Mais adiante, “Os cães brancos na escarpa” é uma imagem que remetem a Ártemis. Aqui evocada, ela aparece no Canto seguinte.