Canto LIII

“Yeou”: Yu Tsao-chi foi um rei mítico da China, sucessor da grande trindade (os três augustos) que reinou por 54 mil anos (18 mil cada). Yu teria ensinado os súditos a construir casas (na verdade, cabanas usando galhos e outros materiais facilmente encontráveis). Seu nome significa algo como “possuindo ninho”.

“Seo Gin”: Sui Jen-chi foi outro rei mítico, sucessor de Yu. Introduziu o uso de madeira e do fogo (seu nome significa exatamente “produtor de fogo e madeira”). Também foi em seu reinado que a prática do comércio teve início.

“Fou Hi”: Fü Hsi reinou entre 2852-2737 a.C. e foi o primeiro dos cinco imperadores do período lendário chinês. Ele ensinou o povo a caçar, pescar e criar rebanhos. Também criou um calendário, instrumentos musicais, contratos de casamento, inventou a escrita e ensinou o povo a cozinhar. Seu nome significa “ser humilde, esconder-se”.

“Chin Nong”: Shên Nung (reinou entre 2737 e 2698 a.C.), segundo dos cinco imperadores lendários. Introduziu um sistema de permutas e a agricultura, sendo conhecido como o “Príncipe dos Cereais” (seu nome significa “agricultor divino”). E aí vem a melhor parte: seu tronco era transparente (o estômago coberto por uma espécie de vidro) e, assim, ele assistia ao próprio processo digestivo e estudava as propriedades dos alimentos.

“Souan yen”: Hsuan Yen, governador que serviu sob o imperador Shên Nung.

“Hoang Ti”: Huang Ti, o “Imperador Amarelo”, reinou entre 2697-2597 a.C., e era dele que todos os reis e príncipes chineses alegavam descender. Foi um governante benevolente e introduziu a historiografia oficial, inventou os tijolos, fez uma reforma no calendário, dividiu os campos de tal forma que cada faixa de terra era usada por uma família e a porção central, por todos.

“Syrinx”: a ninfa perseguida por Pã. Ela se transformou em um tufo de juncos. Pã, então, transformou os juncos em tubos e criou, assim, a célebre flauta.

“Ti Ko”: Ti Ku reinou entre 2436 e 2366 a.C. e seu nome significa “comunicação imperial”. Administrou a justiça com benevolência.

“YAO”: filho de Ti Ku, reinou entre 2357 e 2259 a.C. e fez com que os astrônomos reais criassem um calendário agrícola. É tido como um dos melhores monarcas. Após sua morte, houve três anos de luto. Na véspera de sua morte, como tivesse um filho incompetente, nomeou Shun como sucessor.

“YU”: Ta Yü ou Grande Yü reinou entre 2205 e 2197 a.C. e foi o fundador da dinastia Hsia. Apresentado ao imperador Yao por Shun, Yü foi encarregado de controlar as enchentes do Rio Amarelo, no que foi muito bem sucedido. Serviu como vice-regente de Yao e assumiu o trono após a morte de Shun.

“μωλν”: “moly”, a erva que Hermes dá a Odisseu como antídoto às drogas de Circe (Odisseia X, 305).

“Chun”: Shun reinou entre 2255 e 2208 a.C. após quase três décadas servindo (e aprendendo com) Yao. Ajudou a organizar os serviços religiosos.

“Chang Ti”: Shang Ti, Ancestral Supremo ou Governante do Céu. Ele é a força divina ativa, contraposta à força divina passiva (T’ien). Shang Ti, enquanto deidade individualizada, é tido como a morada dos espíritos após a morte.

“que vos vers (…) conforme”: “que seus versos expressem suas intenções, / e que a música se conforme a eles”.

Ideogramas: YAO, “eminente”; CHUN, “sábio”; “YU”, ideograma do fundador da dinastia Hsia; “KAO-YAO”, “abençoado” + “forno” (de uma olaria, no caso). Kao-Yao foi ministro do imperador Yü e, enquanto tal, introduziu as primeiras leis de repressão ao crime.

A “Imperatriz” citada é Min, esposa de Ti-hsiang. Este foi morto pelo usurpador, Han-tsuo, e ela fugiu e deu à luz Shao Kang. Este foi imperador entre 2079-2055 a.C., depois que Han-tsuo foi deposto pelo povo.

“Chan” é, provavelmente, Shao-Hao, o quarto dos lendários cinco imperadores, filho e sucessor de Huang Ti. Teria sido negligente. No verso seguinte, “Tchuen” é Tchuen-hio, Chuan Hsü, o quinto dos cinco imperadores lendários, neto de Huang Ti; reinou entre 2513-2436 a.C.

“Tching Tang”: Ch’êng T’ang, fundador da dinastia Shang, reinou entre 1766-1753 a.C. e foi um excelente monarca. Durante uma seca, cunhou moedas para que o povo comprasse grãos. Mas só houve grãos à disposição após a aceitação dos sacrifícios pelo Céu, quando a seca chegou ao fim. Daí os versos: “der im (…) hat”, “[o homem branco] que fez a tempestade em Baluba” — v. Canto XXXVIII, onde Pound reconta a seu modo um episódio de Erlebte Erdteile, do antropólogo alemão Leo Frobenius (1873-1938). A anedota original é de que Frobenius e seu time adentraram uma zona de guerra na África e usaram os tambores para sinalizar suas intenções pacíficas. Os tambores também anunciaram a participação de todas as vilas da região em uma batalha na manhã seguinte, mas uma tempestade caiu por volta da meia-noite e, por isso, não houve nenhuma batalha. Os locais acharam que o homem branco “fizera” a tempestade a fim de evitar a guerra. Assim como Frobenius “fez a tempestade em Baluba”, os ritos de Ch’êng T’ang trouxeram a chuva.

Os ideogramas abaixo têm como sentido “faça novo, dia após dia (ou sol após sol), faça novo” (hsin, “novo”; jih, “sol”). E, de fato. Ch’êng T’ang escreveu FAÇA NOVO (“MAKE IT NEW”, no poema) em sua banheira.

“Hia”: Hsia, “verão”. Após a queda de Hsia, a primeira dinastia chinesa, o Reino do Meio foi governado pela dinastia Shang-Yin (1766-1122 a.C.), a primeira historicamente verificável. O título dinástico seria alterado para Yin por volta de 1045 a.C., por Pan Keng.

“Wen Wang”: Wên Wang, o “rei elefante” (1231-1135 a.C.), governou o principado de Chou e era chamado de “Líder do Oeste”. Historiadores modernos consideram-no um monarca exemplar. Como a dinastia Shang-Yin tivesse degenerado em governantes incompetentes, lascivos e cruéis, Wang tentou destronar Chou Hsin, mas foi capturado e aprisionado (e eventualmente solto mediante o pagamento de uma multa). Como depois seu filho, Wu Wang, conseguiu depor a dinastia Shang-Yin, Wên Wang é considerado o pai da dinastia Chou.

“Tio Ki”: Chi Tzu, tio do depravado imperador Chou Hsin. Apontou os hábitos hediondos do sobrinho e, por causa disso, foi preso. “Lou Tai”, a “Torre do Viado”, foi construída por Chou Hsin para sua amante, T’a Chi (referida no poema como “Tan Ki”), e era um lugar onde ocorriam torturas, orgias etc. Ela foi executada após a vitória de Wu Wang em Mou Ye.

“a filha de Kieou”: Chiu Hou foi um nobre chinês que desaprovava os hábitos do rei Chou Hsin. Ele enviou a filha para aconselhar o monarca, que, no entanto, sentiu-se ofendido. Assim, moça foi assassinada, esquartejada, cozida e servida ao próprio pai como jantar.

“Y-king”: o I Ching teve algumas contribuições escritas por Wên Wang enquanto esteve preso em Yu-li.

“Mou Ye”: o campo de batalha em Honan onde as forças de Chou Hsin (referido a seguir como “Cheou-sin”) foram derrotadas pelo exército de Wu Wang em 1122 a.C. Diz-se que, após a derrota, Chou Hsin ateou fogo ao próprio palácio e morreu nas chamas. Wang, de fato, distribuiu os grãos para o povo após a vitória. Posteriormente, ele mudou a capital para Lo Yang, na porção central do leste da China. Aqui, há um deslize na tradução, pois lemos no original “Lo Yang in the middle Kingdom and its length”, sendo “middle Kingdom” o nome recebido pela China imperial naquele momento. Logo, “Lo Yang no Reino do meio e sua extensão”.

“Tcheou Kong”: Chou kung, duque de Chou, irmão e conselheiro de Wu Wang e regente de seu sobrinho, Chêng Wang. Foi imprescindível no estabelecimento da dinastia Chou. É tido como o inventor do “Coche do Sul”, citado no Canto.

“Tching-ouang”: Chêng Wang, filho de Wu Wang, reinou entre 1115-1078 a.C., o segundo governante da dinastia Chou.

“Chao Kong”: Shao Kung, o duque de Chao, parente e conselheiro de Wu Wang. Kung organizou a coroação do filho deste, K’ang Wang (referido por Pound como “Kang”), que reinou entre 1078-1052 a.C. (o terceiro da dinastia), um governante débil, mas auxiliado por um bom corpo ministerial. Os feitos de Shao Kung são listados mais adiante no Canto (“Honra a Chao-Kong o supervisor” e versos seguintes). Diz-se que ele se sentava sob uma pereira, onde ficava dispensando e “meditando justiça”. Seu filho, Pe Chin (referido por Pound como “Pé-kin” e “Príncipe de Lou”), sucedeu o pai como ministro de K’ang Wang.

“Tchao-ouang”: Chao Wang, o quarto rei da dinastia Chou (reinou entre 1052 e 1001 a.C.). Em seu governo, o país declinou. Morreu afogado ao cruzar o rio Han, após ser derrotado em uma batalha.

“MOU-OUANG”: Mu Wang, o quinto rei da dinastia Chou, governou entre 976 e 922 (ou 918) a.C., célebre por campanhas militares bem sucedidas.

“KONG”: Kong (ou Gong) Wang, filho de Mu Wang, sexto monarca da dinastia Chou, reinou entre c.922 e 900 a.C. A história das três filhas do governador, referida nesse trecho do Canto, foi recontada pelo jesuíta francês Joseph-Anne-Marie de Moyriac de Mailla, que a leu na historiografia clássica chinesa e nos escritos de Sima Qian. Conta-se que, durante uma caçada, o governador do estado de Mi apresentou a Kong Wang suas três filhas. O imperador ficou deslumbrado com a beleza das moças e ordenou ao pai que as levasse ao palácio. O pai, não querendo que as filhas se tornassem concubinas, mandou-as para fora do país. Durante um ano, Kong Wang esperou pelas moças. Por fim, quando se deu conta de que o governador não as enviaria, enviou soldados para sequestrá-las. Quando os soldados não as encontraram, o imperador se enfureceu e ordenou a destruição de Mi, coisa da qual teria se arrependido posteriormente.

“Y-wang”: ou Y-Ouang, filho de Kong e sétimo monarca da dinastia Chou, reinou mediocremente entre 899 e 892 a.C.

“Hiao wang”: oitavo na dinastia Chou, filho de Mu Wang e irmão de Kong, reinou entre 891 e 887 a.C., sendo tão ruim quanto o sobrinho que o precedeu.

“Han-kiang”: aqui, um engano de Mallia. Han é um rio, e Kiang, o antigo nome do Yangtze. Logo, ambos os rios teriam congelado.

“Li WANG”: o décimo monarca da dinastia Chou, reinou de forma tirânica entre 878 e 841 a.C., quando foi deposto por uma revolta popular e exilado. Até sua morte, em 828 a.C., o império foi governado por dois ministros no “Interregno de Cong Ho” ou Regência de Gonghe. Após a morte de Li, seu filho Xuan o sucedeu.

“à ce que l’argent circule”: “que o dinheiro circule”. Advertência de Youi-leang-fou (citado alguns versos depois) ao imperador Li Wang para que não taxasse a pouca prata de que dispunham os mais pobres.

“HEOU-TSIE”: Hou Ji, ministro da agricultura sob o imperador Yao, introduziu o cultivo de painço ou milhete (“Hou Ji”, “Senhor do Milhete”, nome postumamente dado a ele pelo rei Tang, fundador da dinastia Shang).

“Chao-kong”: Shao Gong Hu foi oficial da corte no reinado de Li Wang, durante o interregno e no reinado de Xuan. Era descendente do duque de Shao. Quando Li Wang suprimiu a dissidência de forma violenta, Shao Gong chamou a sua atenção para a ligação entre o bom governo e a liberdade de expressão, comparando esta última com uma torrente que o imperador deveria canalizar para evitar inundações. Li Wang não deu ouvidos a Shao Gong e, poucos anos depois, irrompeu a rebelião camponesa que o destronaria.

“Senhor dos quatro mares”: um anacronismo de Pound, pois, na época de Li Wang, os “quatro mares” (o Mar do Leste, o Mar do Sul, o Lago Qinghai a Oeste e o Lago Baikal ao Norte) ainda não correspondiam aos limites geográficos e imperiais.

“contra barbaros / legat belli ducem Chaoumoukong”: “contra os bárbaros / ele apontou Chaoumoukong como líder na guerra”. E, de fato, Shao Gong Hu venceu os “bárbaros” do Sul em três campanhas militares em 826 a.C.

“Juxta fluvium (…) mora”: “Às margens do rio Huai, a linha de batalha é traçada sem demora”. Pound se fiou nas notas em latim de Lacharme ao Livro das Odes.

“agit considerate”: “age” ou “lidera com deliberação”.

“HAN”: Han Hu, que serviu ao imperador Xuan Wang.

“hac loca fluvius alluit”: “o rio nutre esses lugares”; “Campestribus locis”, “lugares campestres”.

“Senhora Pao Sse”: Bao Si, consorte do rei You Wang (o 12º da dinastia Chou e o último dessa dinastia no Oeste). Terremotos precederam sua ascensão ao poder e, em 29 de agosto de 775 a.C., ocorreu um grande eclipse solar. Bao Si era uma concubina, mas, por ela, o rei depôs a rainha Shen e o príncipe Yijiu.

“TCHEOU caiu”: certa vez, um sentinela pensou que os nômades Quanrong estavam atacando e acendeu um farol de alerta, comunicando a suposta investida à capital. Os senhores que ainda eram leais à corte de Chou acorreram para defender a cidade, quando descobriram tratar-se de um alarme falso. Ao saber do ocorrido, Bao Si caiu na gargalhada. O rei You gostou disso (pois Bao Si tinha um temperamento melancólico, difícil) e passou a acender os faróis de alerta quando queria “animar” a consorte. Com o tempo, é claro, os outros pararam de vir em socorro. Quando, em 771 a.C., os Quanrong atacaram, ninguém apareceu para defender a cidade. Os invasores saquearam a capital, mataram o rei You, capturaram Bao Si e acabaram com a dinastia Chou ocidental. Os nobres da capital foram para o Leste, para Chengzhou, e o império fragmentou-se em principados independentes. Com isso, a dinastia passou a existir apenas no nome.

“Seus Ricardos”: no caso, Ricardo III, que teria assassinado os sobrinhos sucessores do trono. De forma similar, os acólitos da segunda esposa de Wen Kung (Hsuan-kung) tramaram um plano para assassinar os dois filhos da primeira esposa dele.

“Ling Kong”: morto em 608 a.C., foi príncipe de Ch’in. Matava pessoas a troco de nada e apreciava comer patas de ursos. Morreu vítima de uma armadilha que montara para matar alguém em um banquete.

“Nova Urnas de Yu”: os nove vasos de bronze que o imperador Yu gravou com as descrições geográficas de cada uma das (claro) nove províncias do império.

“King Kong”: para evitar distrações, poderia ser traduzido como “rei Kong”. Trata-se de Ching Kung (morto em 578 a.C.), príncipe de Ch’in que se tornou um líder para outros príncipes. Diz-se que, em 548 a.C., ao ouvir um prisioneiro tocar a música dinástica de Chou, ficou tão emocionado que libertou o sujeito e o mandou para casa com vários presentes, o que levou a um pacto de paz. Ele é citado de novo mais adiante: “E disse King Kong ‘Essa ideia é boa doutrina”. No caso, Confúcio disse a ele, depois de perguntado sobre o que tornava alguém um bom governante, que precisava “ser um governante agindo como um governante”. Kung concordou que era um bom conselho, mas que era muito velho para começar a segui-lo.

‘Cheou-lang”: K’ung Shu Liang-ho (falecido em 548 a.C.) era o pai de Confúcio (551-479 a.C.) e magistrado-chefe na província de Shandong. Após ter nove filhas com sua primeira esposa, ele se casou novamente aos setenta anos. Cheng Tsai, sua segunda esposa, deu à luz Confúcio (identificado no Canto como “Kung-fu-tseu”) em 551 a.C. No ano anterior ao nascimento dele, ocorreram dois eclipses do Sol. A história sobre ele segurando a ponte levadiça para que seus homens passassem é repetida ao final do Canto e teria acontecido em 562 a.C. durante o cerco de uma cidade.

“Instruído e o não instruído”: Pound pontuando que, tanto na filosofia confuciana quanto na grega, a virtude é algo a ser aprendido e integra o processo de iniciação.

“Kung e Elêusis”: Elêusis era a cidade na Ática onde os Mistérios Eleusinos de Deméter e Perséfone eram celebrados. A princípio, esses ritos eram parte de um festival agrícola. Com o passar do tempo, passaram a concernir ao mundo ínfero e suas deidades, bem como ao descenso ao Hades e às visões místicas do futuro. Nos Cantos, a frase “entre Kung e Elêusis” é recorrente e assinala os dois extremos entre os quais, no entender de Pound, os valores humanos devem ser fixados: “a vida ética e os mistérios sacros”.

No verso seguinte, “somente aos noviços”, Pound (no original) usa o termo “catechumen”, isto é, “catecúmeno”. Apenas o estudante pode aspirar à ética confuciana e aos mistérios.

“Kung era pobre”: mas, dada a sua reputação, tinha apenas 19 anos quando foi nomeado “supervisor de provisões”. Fez um trabalho tão bom que o promoveram a “supervisor do gado”.  “Pien” era Pien-kuan-chi, mulher com quem ele se casou aos 18 ou 19 anos, c. 552 a.C.

Os ideogramas “Chung Ni” são o cognome de Confúcio e significam “segundo em ordem de nascimento”. “Kung-fu-tseu” é, claro, Confúcio, também referido como Kong Fu-Tzu ou Mestre Kong.

O ano da passagem do cometa seria 525 a.C.

“μεταθεμένων τε τῶν χρωμένων”: “muda o valor do dinheiro”. Aristóteles, Política I, 9.

“Fen-Yang”: Fen Yang, um general e conselheiro de Ching Wang, recusou-se a matar um príncipe indefeso e que nada fizera de errado.

“Então Kungfutseu foi nomeado ministro”: sim, em 497 a.C., quando tinha 54 anos.

“C. T. Mao”: Shao ching-mao vinha causando desordens, foi preso e Confúcio mandou decapitá-lo. Quando questionado pelos discípulos, ele disse que os “cinco tipos” de falsidade e improbidade de Mao tornavam-no pior do que um bandido.

“LOU ascendeu”: o estado cresceu em importância graças ao trabalho de Confúcio. Tanto que o príncipe de Chi, enciumado, enviou garotas para corromper o príncipe de Lou, o que funcionou: ele se trancou no palácio por três dias com as moças. Decepcionado, Confúcio foi embora para o estado de Wei.

“Em Tching”: Ching era um estado feudal no centro-leste da China. Confúcio perambulava nas proximidades da muralha, alguém o viu e disse ao rei que lá fora havia um homem que vagava feito um cachorro perdido, mas o descreveu conforme apresenta o Canto, referindo-se à aparência de grandes imperadores. Confúcio negou que se parecesse com tais homens, e concordou que parecia mesmo um cachorro sem dono.

“Tsai”: estado feudal na província de Honan, no centro-leste da China. De fato, quando Confúcio ia ao encontro do príncipe de Chu em 489 a.C., temerosos de sua sabedoria, os príncipes de Chin e Tsai o levaram para uma aérea desértica e lá o deixaram. Os discípulos, esfomeados e sedentos, desesperaram-se, mas Confúcio cantou e permaneceu tranquilo até que o príncipe de Chu enviou tropas para resgatá-los.

“Tsao” era um pequeno estado que perdurou de 1122 a 501 a.C., cuja derrocada final ocorreu porque o príncipe Yan Kung deu ouvidos a um ministro ruim.

“odes”: em 493 a.C., como seus conselhos eram ignorados pelos príncipes, Confúcio concentrou-se na composição de odes.

“King Ouang”: Ching Wang (não confundir com o homônimo citado antes), 25º monarca da dinastia Chou, reinou entre 519 e 475 a.C., de tal forma que o 40º ano de seu governo foi 479 a.C. — o ano em que Confúcio, aos 73 anos, morreu.

“Min Kong”: Min Kung, morto em 478 a.C., teria criado grande desordem na região.

“Fan-li”: Fan Li, um ministro que trabalhou para diminuir os poderes dos príncipes eternamente em guerra, acabou se retirando para os cinco lagos.

“A neve…”: a desordem estatal espelha a desordem na natureza, simbolizando a derrocada da dinastia Chou. A nevasca teria ocorrido em 435 a.C.; os damascos frutificaram em dezembro de 428 a.C. “Tai-hia” são as altas montanhas (Tai Hsia), e “Hoang-ho” (Hwang Ho) é o Rio Amarelo.

“Kong-sung-yang”: Kung Sung-yang (também conhecido como Wei Yang ou Shang Yang), morto em 338 a.C., foi um ministro de estado em Ch’in. Ele organizou a administração e lançou as bases para que Ch’in derrotasse os rivais e se tornasse o primeiro império chinês.

“Sou-tsin”: Su Ch’in, morto em 317 a.C., filósofo taoísta e ministro do estado de Ch’in. Era um dos filósofos-diplomatas que perambulavam pela região. Foi ridicularizado por um príncipe de Ch’in e, como vingança, criou intrigas e provocou conflitos. Teve um caso com a rainha e foi assassinado.

“Tchan-y”: Su Ch’in, morto em 309 a.C., foi um condottiere que lutou pelos estados de Wei, Ch’in e Chou nas guerras feudais da época.

“POLLON IDEN”: “muitos ele viu”. Excerto da Odisseia I, 3: “as muitas urbes que [Odisseu] mirou e mentes de homens / que escrutinou (…)” (na tradução de Trajano Vieira, ed. 34).

“Tchao Siang”: Chao Hsiang, rei do estado de Ch’in, estava sempre em guerra com outros estados, o que colaborou para a derrocada final da dinastia Chou e a ascensão do império Ch’in. Em 288 a.C., ele se autodeclarou imperador do Oeste (ou Ocidente), ao passo que o príncipe de Chi seria o imperador do Leste (ou Oriente).

“Yo-Y”: ministro do estado feudal de Yen, o qual durou de 1122 a 265 a.C. Onde, no mesmo verso, lê-se “trabalhos obrigatórios”, atentar para o fato de que, no original, Pound usou o termo francês “corvées” (“corveia”).

O ideograma que encerra o poema é “Chou”, relativamente à dinastia de que trata boa parte do Canto.