Canto LXXXI

“Zeus jaz no seio de Ceres”: Ceres (Deméter) é a deusa da colheita. O verso sugere que o verdor e a fertilidade da natureza são a manifestação do poder divino.

“Sargent a havia pintado”: referência à tela “La Carmencita” (1891), de John Singer Sargent (ao lado).

“Bowers”: Claude Gernade Bowers (1878-1958), historiador e diplomata norte-americano, embaixador na Espanha (1933-39). Pound gostava de Jefferson and Hamilton, de Bowers, e escreveu para ele em 1938. Na resposta de Bowers, datada de 10 de maio de 1938, ele menciona “a atmosfera de ódio inacreditável” reinante na Espanha.

“e os vermelhos de Londres”: à época da Guerra Civil Espanhola, Moscou considerava que a segurança das nações aliadas era mais importante do que qualquer outra coisa. A ideia era que Inglaterra, França e EUA ficassem unidos contra a ameaça nazifascista. Assim, a URSS evitava patrocinar revoluções ou ações comunistas que desestabilizassem os outros países. Na Espanha, houve diversos grupos estrangeiros que lutaram contra Franco, mas também havia aqueles que apoiavam o ditador Francisco Franco (1892-1975). Por conta da política de Moscou, esses “amigos de Franco” não eram expostos. V. George Orwell, Homenagem à Catalunha.

“Alcázar”: cidade espanhola visitada por Pound em 1906. Na opinião de Franco, o sangrento certo a Alcázar foi imprescindível para a vitória fascista na Guerra Civil. Talvez, na tradução, o mais indicado fosse usar a preposição “em” em vez de “no Alcázar”.

“Cabranez”: Augustin Cabanès (1862-1928) foi um médico francês, historiador e autor de inúmeras obras de ficção e história. “Basil” é o poeta inglês Basil Bunting (1900-1985). Ele se refere a uma tradição nas Canárias onde as pessoas batiam tambores à exaustão entre a Sexta-Feira da Paixão e o Domingo de Páscoa. “Possum” (“gambá”) é T. S. Eliot. No original, como em outros Cantos, Pound escreve “portagoose” em vez de “portuguese”.

John Adams certa vez observou que ele temia a aristocracia, ao passo que Jefferson temia a monarquia.

“(Para quebrar o pentâmetro…)”: isto é, deixar de lado os ritmos e estruturas poéticas tradicionais e aproximar a poesia da fala coloquial.

“Jo Bard”: o escritor húngaro Josef Bard (1882-1975), que Pound conheceu no final da década de 1920. Ele se casou com Eileen Agar, aquela do “raio solar artificial” (“trick sunlight”) citada no Canto LXXVI (ela colocava uma lâmpada atrás das cortinas amarelas em sua casa, daí o “truque”). Pound visitou o casal em 1938, quando foi a Londres para o funeral de Olivia Shakespear. Foi Bard que apresentou Pound para Frobenius.

“de Maintenon”: Françoise d’Aubigne, marquesa de Maintenon (1635·1719), amante e depois segunda esposa de Luís XIV. Pound e Baird concordavam que, nos romances, pessoas ordinárias como padeiros e porteiros sempre soavam como gente inteligente e sofisticada como a marquesa e o também citado La Rochefoucauld.

“‘Te cavero le budella’ / ‘La corata a te'”: “‘Vou arrancar as suas tripas’ / ‘E eu [vou arrancar] as suas'”.

“Ἶυγξ…. ἐμὸν ποτὶ δῶμα τὸν ἄνδραde”: “Iynx (…) homem para a minha casa!” — o verso é de Teócrito, do “Idílio II”. A Iynx era um disco de madeira com dois furos no meio, nos quais se passava um cordão. Para fazer com que o disco girasse, bastava afrouxar e puxar o cordão. Ele era usado para atrair um amante. Leia o poema completo AQUI.

“Benin”: ref. à cidade e ao rio nigerianos, onde Frobenius (apresentado a Pound por Bard) coletava máscaras e artefatos. A alusão a Frankfurt se deve ao fato de que o Instituto Frobenius se localiza nessa cidade alemã.

“E de início…”: as linhas seguintes derivam de Persons and Places, de Santayana, cujos manuscritos Pound leu em 1940.

“et les quais dévastés à coups de bélier”: “e as docas devastadas a golpes de aríete”.

“Muss” é Mussolini, claro. Ele, de fato, forçava o sotaque da região da qual viera, um traço populista típico.

“e disse que a dor (…) clímax”: Santayana escrevendo sobre o luto da tia pela perda da filha.

“George Horace”: George Horace Lorimer (1868-1937), editor do Saturday Evening Post e vizinho da família Pound em Wyncote. “Beveridge” é o senador Albert Jeremiah Beveridge (1862-1927), apoiador de Theodore Roosevelt e um dos organizadores do partido Progressista em 1912. Ele “não falaria e (…) não escreveria” sobre uma viagem que fizera às Filipinas em 1899, pois queria abordar o tema em seu primeiro discurso como senador. Na verdade, Horace escreveu seis artigos, não “três”, como escreve Pound.

“Althea”: ref. ao poema “To Althea from Prison”, de Lovelace.

“libretto”: assim como o Canto LXXV traz as notas musicais de Janequin, o tom musical desse Canto é sublinhado pela ideia de que se trata de um “libretto”. Nos versos seguintes são citados Henry Lawes (compositor inglês, 1596-1662), John Jenkins (compositor inglês, 1592-1678), Arnold Dolmetsch (1858-1940, multi-instrumentista e pesquisador, crucial no movimento de revivalismo da música antiga), Edmund Waller (poeta inglês, autor de “Song: Go, lovely Rose”, 1606-1687) e John Downland (compositor e alaudista irlandês, 1563-1626).

“Moldaste (…) sombra”: Pound se inspirou na terceira estrofe de “The Triumph of Charis”, do inglês Ben Jonson (1572-1637).

“Ed ascoltando…”: “E ouvindo o gentil rumor”.

“Εἰδώς”: aparência, natureza constitutiva, forma, tipo, espécie, ideia.

“Apreende o teu lugar com o verde universo”: v. Mateus 6, 28-31 (“Olhai os lírios do campo” etc.).

Paquin foi um costureiro parisiense.

“O elmo verde…”: no original, “The green casque”. Creio que a melhor tradução seria “carapaça”, pois é uma referência à vespa que nasce (há outra referência no Canto LXXXIII).

“‘Governa-te que assim…'”: Pound parodia a “Balada do bom conselho”, de Chaucer.

“Blunt”: o inglês Wilfrid Scawen Blunt (1840-1922) foi poeta, diplomata, viajante, defensor da independência da Índia, do Egito e da Irlanda (pelo que foi preso). Foi casado com Lady Anne Blunt (neta de Byron, filha de Ada Lovelace), com quem viajou pelo Oriente Médio e trabalhou na preservação de certas linhagens de cavalos árabes em sua fazenda, Crabbet Arabian Stud. Blunt era muito admirado por Pound.