“Palmerston”: Henry John Temple, 3º Visconde Palmerston (1784-1865), político britânico e lider do Partido Liberal. Foi primeiro-ministro entre 1855 e 65. Pound cita uma carta dele para John Russell (1792-1898), outro político liberal, escrita em 1863. Palmerston reaparece nos Cantos 52, 89 e 104, e é apresentado sempre favoravelmente.
“re / Chas. H. Adams”: Charles Francis Adams (1807-1886), neto de John Adams, historiador e político norte-americano. Como os britânicos importavam algodão dos estados sulistas, temia-se que eles se posicionassem contra a União e a favor dos Confederados. Assim, durante a Guerra Civil, Adams atuou como enviado dos EUA na Inglaterra e conseguiu assegurar a neutralidade inglesa.
“velho etcetera… monumento”: referência ao memorial da Rainha Vitória, localizado defronte ao Palácio de Buckingham.
“H.G.”: Herbert George Wells (1866-1946), romancista britânico.
“Lex salica”: a Lei Sálica foi criada por Clovis I, rei dos Francos, no século V. Entre outras coisas, ela excluiu as mulheres das sucessões reais. Acaso a Inglaterra seguisse essa lei, Vitória (por exemplo) jamais teria assumido o trono.
“Lex germanica”: na lei alemã, havia uma igualdade entre os irmãos herdeiros e, caso não houvesse homens, as mulheres podiam herdar e até mesmo controlar a propriedade. Pound sugere, com ironia, que a sucessão britânica segue a lei germânica.
“Antoninus”: Antonino Pio (86-161 d.C.), imperador romano tido como um excelente administrador.
“a lei regia no mar”: resposta de Antonino à petição de um mercador da Nicomédia (atual İzmit, na Turquia) chamado Eudaemones. O mercador alegou que seu navio tinha naufragado, e que fiscais das Cíclades confiscaram suas propriedades. Chamando Antonino de “kyrios”, “Senhor do Mundo”, Eudaemones pede que seja poupado do confisco. Daí a resposta de Antonino: “Eu governo a terra, mas a lei [de Rodes] governa o mar, e nisso não contradiz a lei romana”. Essa “lei marítima” previa a usura, justificando o confisco dos bens do mercador para saldar as dívidas que tivesse. Pound retorna à resposta de Antonino nos Cantos 46, 78 e 87.
Os dizeres de Antonino ligam o início do Canto (em que a postura de Palmerston deixa claro que, embora Vitória seja retratada como a “imperatriz do mundo”, quem governa são os ministros e políticos) à principal história do poema: a fundação do Monte dei Paschi. Sobre a fundação do Monte, vemos como as receitas dos impostos poderiam ser usadas para garantir um empreendimento bancário dos mais arriscados, em uma época na qual o poder político na Toscana era débil. Assim, o Canto expõe ao ridículo as contradições entre os soberanos e as leis que regem, de fato, um determinado estado ou comunidade. Assim como Eudaemones pediu uma reparação ao imperador, os senenses pediram aos seus governantes que ajudassem a cidade, estendendo os acordos legais existentes entre Siena e Florença.
“Ilustre Colegiado”: Collegio di Balìa, o senado de Siena, constituído por vinte membros (“Bailio”) escolhidos pelo duque.
“Monte”: o Monte dei Paschi (Monte das Pastagens) derivou seu nome do já existente Monte di Pietà, a casa de penhores de Siena. Embora Pound apresente a fundação do Monte como tendo ocorrido em 1624 e en separado do Monte di Pietà, historiadores demonstraram a continuidade entre as duas instituições e consideram uma só data para a criação de ambos (1472).
“banco di giro”: faz movimentações financeiras entre contas de indivíduos e empresas por meio de anotações nos livros de cada conta, sem a necessidade de lançar títulos ou cheques.
“pareceres”: nos Cantos 42 e 43, Pound recorre a três conjuntos de documentos: o relatório do senado florentino para a família ducal com respeito à petição dos senenses e, depois, a aprovação da petição em 30 de dezembro de 1622, autenticada em 2 de janeiro de 1623; a reunião dos membros do conselho senense para discutir o estatuto e as garantias do banco na Sala del Mappamondo da câmara da cidade, em 4 de março de 1623, autenticada por Livio Pasquini em 18 julho de 1623; e o documento de fundação do Monte, escrito em latim e italiano, em 2 de novembro de 1624, assinado por Pasquini (representando Siena) e Nicolaus Ulixis (representando Florença). Pound inicia sua apresentação dos materiais de Siena in medias res, com a reunião dos conselheiros em 4 de março de 1623. Ele retorna à mesma cena (e ao que foi acordado ali) no começo do Canto 43.
“Senado”: Cosimo I derrotou Siena na guerra de 1555, quando a cidade perdeu sua independência e se tornou parte do Grande Ducado da Toscana. Assim, todas as decisões relativas à criação do Monte dei Paschi foram tomadas em Florença, cujo Senado era composto por 48 homens. Foram eles quem apresentaram à família ducal a petição do Bailio senense para criar um novo “Monte” a partir de recursos recebidos via impostos, em um relatório de 29 de dezembro de 1622.
“contrato”: no original, “contrade”. Trata-se de uma mancada do tradutor. “Contrade”, em italiano, significa “bairros”, “distritos”.
“cai a onda…”: esses quatro versos funcionam como uma transição lírica entre a primeira parte, sobre o estabelecimento do Monte, à segunda, que retorna à petição dos senenses.
“AA VV”: “Altezze vostre”, “vossas altezas” (letras duplicadas como indicativo do plural). Mais abaixo, “Luoghi”, “instituições”, “organizações”.
“Grão-Duque”: à época, Ferdinando II (1610-1670), que ainda era menor de idade.
“‘A Abundância'”: “L’Abbondanza”, magistratura responsável pela distribuição de grãos em tempos de escassez.
“Nicolo (…) Gionfiglioli”: Pound escreve erroneamente os nomes desses dois signatários. O correto: Niccolò dell’Antella e Horatio Gianfigliazzi.
“Tutrice”: tutora. “Xembre”: dezembro.
“Fabbizio bollo vedo”: Pound parodia o nome de Fabrizio Colloredo. “bollo vedo” significa “vejo um selo” em italiano. Com “Cenzio Grcolini”, outra paródia (de Orazio Ercolani).
“ACTUM SENIS”, “transacionado em Siena”.
“o eco retornou à minha mente”: referência a três cidades do norte da Itália, localizadas entre Milão e Veneza — Pavia, Vincenza e Verona (a igreja San Zeno e o rio Adige são citados no trecho).
“Nicolaus Ulivis de Cagnascis”: Nicolaus Ulixis de Magnanis, notário florentino que assinou o documento de fundação do Monte dei Paschi junto com o notário senense Livio Pasquini. “Ulivi”, “oliveiras”; “Ulixis” remete a “Ulisses”.
“Senatus Populusque Senensis”, “o Senado e o povo de Siena”; “OB PECUNIAE SCARSITATEM”, “por causa da escassez de dinheiro”; “Monte non vacabilis publico”, “ações não expiram com a morte”. Aqui, Pound retorna ao documento de 2 de novembro de 1624, no qual os senenses apresentam as razões para a fundação do Monte.
“com precauções”: no caso, as garantias que Siena oferecia à família ducal para a criação do banco. A primeira precaução é de que os lucros seriam usados para cobrir perdas, e que o banco manteria uma pequena reserva para quaisquer eventualidades.
“die decima ottava”: dia 18.
“Della Rena”: Horatio della Rena, secretário da tutora Maria Maddalena e um dos signatários do ato de 30 de dezembro de 1622, pelo qual o estabelecimento do Monte foi aprovado pela família ducal. “Don Ferdinandus”: Ferdinando II, o Gão-Duque.
O logo que aparece no Canto é o brasão da família Chigi, banqueiros em Siena desde o século XV. Agostino Chigi estava entre os primeiros magistrados do Monte. Em 1933, quando o conde Guido Chigi Saracini fundou sua Accademia Musicale Chigiana, ela foi patrocinada pelo Monte. Olga Rudge, a amante de Pound, tornou-se a primeira secretária da Accademia, o que suscitou o interesse do poeta por Siena e sua história.
“Chigi, Soffici (…) St. Alban”: Agostino Chigi, Alessandro de Sozzini, Marcellus de Agostini, Cesare Marescotti di Mont’Albano, os oficiais responsáveis pela administração do Monte dei Paschi em 1624.
“Loca Montis”: ações no Monte.
“ex certe scientia et”, “a partir de conhecimento certo” (segundo a tradução do próprio Pound no verso anterior).
“de libris septeno”: o correto seria “de libris septem”, “de sete libras”. Cada escudo valia 7 libras.