“Andava Kung”: Confúcio (551-479 a.C.), filósofo chinês que é apresentado por Pound neste Canto com um método de ensino similar ao de Aristóteles e dos peripatéticos. Mas, tradicionalmente, diz-se que Confúcio ensinava em um pomar ou sob um damasqueiro (referido ao final do canto como apricot).
Khieu, Tchi e Tian: três discípulos de Confúcio. Alguns versos depois, um outro nome (Thseng-sie) é mencionado. Os discípulos tinham ao menos dois nomes: aqueles com os quais foram registrados pelas respectivas famílias e os nomes “de cortesia”, dados na puberdade e usados em circunstâncias formais. Assim, Thseng-Sie é o nome de cortesia de Tian, discípulo fundamental para a transmissão dos ensinamentos de Confúcio para a posteridade.
“E ‘nós somos desconhecidos’, disse Kung”: vivendo em um período conturbado, na Dinastia Tang, Confúcio teve várias de suas ambições frustradas, e procurava manter vivos os valores da Dinastia Chou. Ele queria colocar suas ideias em prática, mas sentia que era ignorado pelos governantes. A questão colocada aos discípulos expressa essa vontade de mudar as coisas.
“carros de guerra”: a condução de carros de guerra era uma das seis artes (e a mais humilde delas) que constituíam o currículo de um cavalheiro chinês nos tempos de Confúcio. As outras cinco eram o manejo do arco, os ritos, a música, a caligrafia e a matemática.
A “prática da oratória” é algo mais ligado aos mundos grego e romano.
Tseu-lou era o nome de cortesia de Zhong Yóu, o discípulo que mais aparece nos Analectos — embora não fosse o predileto de Confúcio.
Sobre “as defesas em ordem”, trata-se de uma recriação interpretativa da resposta de Tseu-lou, dada a maneira como ele aparece às vezes nos Analectos. Aqui ele seria, então, o estrategista militar. Khieu (Ran You; nome de cortesia: Ran Qiu), por sua vez, é retratado como um administrador. Tchi (Gongxi Chi; Gongxi Hua) seria um eremita ou um monge (embora, nos Analectos, esteja mais para um burocrata religioso). Tian (Zeng Dian; Zeng Xi) seria o sonhador, o artista (músico).
“E Kung sorriu igualmente para todos”: no texto original, ao ouvir a resposta de Tian, Confúcio sorri e diz concordar com ele. Aqui, no entanto, Pound opta por se distanciar dos Analectos, colocando a arte no mesmo patamar que o governo e a espiritualidade.
“Yuan Jang (…) respeito”: Pound usa e comenta a passagem 14.43 dos Analectos. Ao citar Confúcio a seguir (“Respeite as faculdades de uma criança”), Pound sugere que merece respeito não quem é velho e/ou possui autoridade e poder, mas alguém cuja natureza ainda não foi corrompida e que faz algo de útil.
“suas riquezas estarão bem empregadas”: comentário traduzido do Tchoûng-Yoûng, é uma piscadela para Malatesta, que se cercava de artistas, humanistas e arquitetos.
“… ordem dentro de si”: inspirado pelo Ta Hio, Pound começa pelo indivíduo, diferentemente de Confúcio, que inicia falando do ordenamento do estado.
“deferência fraterna” é um conceito-chave para Confúcio, visto por Pound como um contraponto “ama o próximo” dos cristãos. A “deferência” implica respeito pela privacidade alheia.
“fixar-se no meio”: outro conceito fundamental.
“Se um homem assassina…”: Pound enfatiza a rebeldia confuciana com relação ao estado, na medida em que o pensador coloca a lealdade familiar acima da autoridade governamental.
Kong-Tchang e Nan-Young foram outros discípulos de Confúcio.
Wang: possível referência ao reinado de Wu Wang (?-1063 a.C.), o primeiro imperador da Dinastia Chou. Ele venceu a batalha de Mou Ye contra a dinastia anterior, a corrupta Shang, em 1046 a.C. Ele reaparece no Canto LIII.
Deixar “hiatos em seus escritos” reitera a poética poundiana e seu uso dos fragmentos históricos nos Cantos.
“Sem caráter”: primeira tradução de Pound do princípio confuciano do Ren (“humanidade”), aqui assimilado à “virtú” e à “natureza”.
“Odes”: o Livro das Odes (Shi Jing) é a mais antiga coleção de poesia chinesa, também chamado de o Quinto Clássico. Os Cinco Clássicos (Wujing) são, como o nome indica, os cinco textos clássicos chineses, cuja compilação é tradicionalmente atribuída a Confúcio: “Livro das Mutações” (I Ching ou Yì Jīng), “Clássico da História” ou “Clássico dos Documentos” (Shū Jīng), “Clássico da Poesia” ou “Livro das Odes”, “Clássico dos Ritos” (Lǐ Jì) e “Os Anais de Primavera e Outono” (Chūn Qiū).
“… impedir-lhes o cair”: ou seja, que os ensinamentos não sejam esquecidos.