“E gradment (…) annutii”: o Canto começa onde o anterior terminou, com o discurso de Sigismundo para suas tropas antes da batalha em Nidastore.
“E ele nos pôs…”: o “nos” se deve ao fato de que o narrador do Canto é um soldado do exército, talvez o próprio Broglio.
“Roberto”: Roberto Malatesta (1442–1482), filho mais velho de Sigismundo com Vannetta dei Toschi, tornado legítimo pelo papa Nicolau V em 1450. Lutou ao lado do pai. Mas, ao descobrir que Roberto trocou Cesena por propriedades menores após a morte de Malatesta Novello em 1465, Sigismundo o deserdou em favor de seu (dele, Roberto) irmão caçula, Sallustio, ao voltar de Moreia, em 1466. Após a morte de Sigismundo, Roberto voltou a Rimini, assassinou Sallustio e se tornou o novo lorde, assumindo o título de Roberto Magnifico. A exemplo do pai, tornou-se condottiere e lutou por vários patrões, incluindo Veneza e o papado.
“fanti”, “soldados de infantaria”; “E gli homini (…)”, “E os homens do senhor Sigismundo / não chegavam a mil e trezentos”.
“… em agosto seguinte”: as tropas de Sigismundo foram derrotadas na Senigallia no dia 12 de agosto de 1461.
“E Roberto foi batido em Fano” em 25 de setembro de 1463, ao defender a cidade das forças papais lideradas por Federico de Montefeltro.
“Tarento”: Sigismundo foi a Tarento para visitar o príncipe da cidade, Gianantonio Orsini, em 25 de agosto de 1462, e discutir a situação com Piccinino e seus aliados angevinos. Em sua ausência, Federico da Montefeltro e as forças papais invadiram seus territórios.
“anti-Aragons”: membros da família Anjou, René d’Anjou, Duque de Lorraine, e seu filho, Jean d’Anjou, Duque da Calábria, que tentavam conquistar o Reino de Nápoles desde a morte de Alfonso, em 1458. A aliança fora firmada em Troia, em 18 de agosto de 1462, por Ferdinando de Aragon e Alessandro Sforza. Mas, àquela altura, a causa angevina estava perdida, e eles não tinham como ajudar Sigismundo.
“Par che e fuor di questo Sigis…”, “Parece que ele está fora desse… Sigis… mundo”: trocadilho poundiano com o nome de Sigismundo, baseado em um trecho de uma carta de Federico da Montefeltro para Cicco Simonetta, datada de 21 de outubro de 1463, na qual celebrava o triunfo contra o inimigo.
“E ele esteve nos hospitais…”: na primavera de 1463, as intenções de Federico da Montefeltro de cercar Rimini foram frustradas pela peste, que contaminou muitas pessoas na cidade em seus arredores.
“Quali lochi sono questi”, “Estes são os lugares”: lista das cidades e regiões que Sigismundo rendeu ao papa ao firmar o tratado de paz em outubro de 1463.
“… placas de sal”: referência a Cervia, que Malatesta Novello foi forçado a vender para Veneza em abril de 1463; a localidade era lucrativa por conta da venda de sal.
“… o aleijado Novvy”: Domenino (Malatesta Novello) era aleijado desde os 29 anos, quando sofreu um acidente. Em agosto de 1463, firmou um acordo com o papa que estipulava que ele poderia governar Cesena enquanto vivesse, mas que a cidade passaria para as mãos do papa após sua morte. Domenico morreu em 1465 e Roberto tentou manter o controle sobre Cesena, mas teve de se render às forças papais lideradas por Federico da Montefeltr em 1466, enquanto seu pai estava em Morea.
“… jovem Piero”: Pierfrancesco de Medici (1430–1476). Pound se refere a uma carta escrita por Sigismundo para ele em 5 de dezembro de 1463.
“chiexa”, “igreja”.
“O velho Zuliano”: de uma carta de Sigismundo para Roberto (18 de junho de 1463), referindo-se a Giuliano Agulani, cujos filhos deveriam receber qualquer coisa que ele tivesse deixado.
“E Vanni”: de outra carta de Sigismundo para Roberto (24 de março de 1463), referindo-se a Giovanni Riccio.
“E os processos tramitam em Fano”: as cartas supracitadas foram escritas quando Roberto ainda detinha o controle sobre Fano, antes de perdê-la para Federico da Montefeltro em 25 de setembro daquele ano. Logo, estão entre os derradeiros documentos de Sigismundo como lorde de Fano.
“Pelo longo pavimento sobre os arcos”: referência à casa dos Malatesta em Fano, construída por Pandolfo III, pai de Sigismundo, entre 1413 e 1421, e então usada para reuniões do conselho citadino. Hoje, é parte do Museu Cívico.
“Sub annulo piscatoris”, “Sob o anel do pescador”: “Sob o selo da Igreja, o palácio ou corte que pertencia aos Malatesta”. O pescador, no caso, é São Pedro. Seu “sucessor”, papa Pio II, tomava posse da suprarreferida casa.
“… d”’ e b”’ e colonne”, “com as belas colunas”: no caso, da Biblioteca Malatestiana e do Hospital da Sagrada Cruz, construídos em Cesena por Malatesta Novello.
“E o imenso diamante…”: joia preciosa comprada por Sigismundo em Veneza, em 1457, por 15 mil ducados, paga (com a aprovação do conselho de Fano) em cinco anos com grãos e pastel-dos-tintureiros.
“Moreia” era o nome do Peloponeso na Idade Média. Sigismundo foi para lá como capitão dos venezianos, em 1464-66, o único condottiere que aceitou combater os otomanos. Sua campanha, no entanto, foi mal financiada e prejudicada pela incompetência e pela burocracia dos venezianos. O único “ganho” foram os ossos de Gemistos, conforme mencionado na postagem sobre o Canto VIII.
“Lakedaemon”: antigo nome de Esparta.
“… quarenta e quatro mil anos”: Pound reutiliza a fórmula “E aqui nós sentamos”, como no Canto IV, indicando a Arena di Verona. A arena possui quarenta e quatro círculos concêntricos, e Caterina Ricciardi observou: “mille per ogni gradino”, “mil [anos] para cada degrau”.
“E eles o pilharam…” (no original, “trapped him”): referência à emboscada armada por Astorre Manfredi em 1446, mencionada no Canto IX. Sigismundo teve de fugir dos cachorros de Astorre e se esconder no pântano por três dias.
“Rocca Sorano”: nova menção à fortaleza de Sorano, cercada por Sigismundo entre outubro e dezembro de 1454 (v. Cantos IX e X).
“Platina”: Bartolomeo Sacchi (1421–81), membro de um grupo secreto chamado Accademia Romana, cujos membros compartilhavam um entusiasmo pela antiguidade pagã e literatura latina, usavam togas, conversavam em latim clássico e escreviam poesia homoerótica. Em fevereiro de 1468, eles foram presos sob suspeita de conspirarem contra a vida do papa Paulo II, mas soltos logo depois. Platina foi interrogado sobre o que ele e Sigismundo conversaram em 1467, enquanto esperavam pelo papa.
“Barbo, ‘Formosus'”: Pietro Barbo sucedeu Pio II em 1464. Como era considerado bonito, queria ser chamado de “Formosus”, mas os cardeais protestaram e ele optou pelo nome Paulo II.
“de litteris e de armis, praestantibusque ingeniis”, “sobre as letras e as armas, e as mentes excelentes”: a resposta de Platino ao ser perguntado sobre o que ele e Sigismundo conversaram.
“sexaginta quator nec tentatur habere plures”, “sessenta e quatro lanças, e não tente arranjar mais”: a derradeira humilhação imposta pelo papa.
“para vigiar os venezianos”: enquanto Sigismundo estava em Moreia, os venezianos postaram uma guarnição na cidade a fim de preservar domínio de Sigismundo enquanto estivesse fora. Sabedor do desejo dos venezianos de ocupar Rimini, o papa disse que as sessenta e quatro lanças eram para proteger a cidade, caso os venezianos tentassem alguma coisa.]
“E ele deixou três cavalos (…)”: em 1467, Sigismundo soube que o papa Paulo II queria tirá-lo de Rimini, oferecendo em troca um domínio menor, como Spoleto e Foligno, daí a sua intenção de assassinar o pontífice. O papa recebeu Sigismundo na presença de sete cardeais. Ao perceber que não teria como levar adiante o plano de assassinato, Sigismundo se ajoelhou e implorou que o papa levasse em conta os anos de serviço da família Malatesta ao papado e não o desalojasse de Rimini. O papa negou que tivesse essa intenção e o contratou como condottiere do exército papal, pagando oito mil ducados por ano. O contrato foi mantido até a morte de Sigismundo, em 1468. Os tais cavalos serviriam para a fuga de Sigismundo caso matasse o papa, que é referido por Pound nos versos seguintes como “Paolo Secundo” e “Fatty” (“gordinho”).
“E o castelão de Montefiore”: ao retornar de Moreia, o navio de Sigismundo aportou em Montefiore, que outrora possuíra. O castelão da cidade escreveu aos venezianos para dizer que Sigismundo ainda era muito popular entre os moradores da cidade.
“Henrique”: Enrico de Aquabello. Sigismundo fez um acordo por escrito segundo o qual Enrico receberia um manto verde com brocado de prata caso aguentasse qualquer piada que Sigismundo no decorrer de quatro meses. Enrico também poderia brincar com Sigismundo, desde que não exagerasse.
“Actum (…) Aquabello”, “Ato firmado na fortaleza de Sigismundo, na presença de Roberto Valturio (…) de boa vontade e com pleno conhecimento (…) para Enrico de Aquabello.”