Texto publicado hoje n’O Popular (outra versão desse texto saiu no Estadão em meados de 2013). A memória é uma dança de espelhos, e os reflexos que distinguimos aqui e ali raramente são confiáveis. O narrador e protagonista de Luz Antiga, Alexander Cleave, tem plena consciência disso. O romance de John Banville fecha uma trilogia […]
Categoria: Leituras
Tezza
As pessoas não estão preocupadas com a prisão do Lula, mas com o preço do abacate, na medida em que você não tem uma quebra institucional brutal [no país]. O Brasil é impressionante, ele não tem governo e anda sozinho. (…) Discussões comportamentais e culturais no país parecem levar automaticamente a uma sovietização da economia. […]
“É difícil escrever romances.”
Acho que ninguém é capaz de ensinar a escrever um romance, pelo menos não em uma hora. É difícil escrever romances. Você precisa ter a ideia e as personagens, e talvez se acrescentem personagens pelo caminho. Você precisa da história. Você precisa, se me permitem dizer, da forma: qual será o tamanho do livro? Será […]
Lugar de escuta
Pois se alguma nuvem carregada há no horizonte da ficção, é justamente a de uma certa demanda identitária quanto a seus personagens. Decalcada das chamadas ações afirmativas, ela sugere um desejo de legislar (via crítica, sobretudo a universitária) acerca de quem são — sua etnia, seu gênero, sua classe — as pessoas com as quais […]
O triunfo da imaginação
Uma leitura de Nobel, de Jacques Fux. Artigo publicado no site da revista CULT. No oceano de picaretagem que cerca as ilhas desoladas que são os meios literário e acadêmico brasileiros, poucas noções (pois raras são aquelas que, hodiernamente, chegam a ser conceitos) navegam com tanta facilidade e são tão constrangedoras quanto a de “autoficção”. […]
Fichte
No capítulo 20 da segunda parte do formidável Explosão, Hubert Fichte primeiro transcreve burocraticamente uma entrevista que fez com Salvador Allende, e depois, de forma inesperada e quase onírica, narra um inadvertido encontro com Jorge Luis Borges. A justaposição dos encontros, a enorme diferença com que cada um deles é abordado, a carga poética de […]
“In God’s name, when was that?”
“The path took Henry Pimber past the slag across the meadow creek where his only hornbeam hardened slowly in the southern shadow of the ridge and the trees of the separating wood began in rows as the lean road in his dream began, narrowing to nothing in the blank horizon, for train rails narrow behind […]
Humboldt
Voltei a O Legado de Humboldt uns vinte anos após a primeira leitura. É um dos livros que fizeram a minha cabeça naquela idade ébria para os que têm senso de humor e insuportável para os que têm um pingo de bom senso (eu gostava de pensar que tinha um pouco de cada) (estava errado, é […]
Você e eu somos reais, não somos?
David olhava pela janela. — Teddy, sabe no que é que eu estava pensando? Como é que a gente distingue as coisas que são reais das que não são? O ursinho rearranjou suas alternativas. — Coisas reais são boas. — E será que o tempo é bom? Eu acho que a mamãe não gosta muito […]
Não se preocupe
“Eu morava numa casa de oitocentos metros quadrados dispostos em quatro pavimentos. O que inviabilizou nossa permanência nessa casa foi meu pai ter sido colocado em definitivo na cadeira de rodas. A entrada nos setenta acelerou uma debilitação que até então fora branda, um calmo exercício de evacuação feito pela brigada de incêndio sucedido pelo […]