Em Discurso sobre a metástase, de André Sant’Anna (ed. Todavia):
“(…) O povo indo à praia, no litoral do Dorival Caymmi, que bonito!, bebendo a cerveja daquela mulher que tem aquela bunda, aquele rabo!, na televisão, o alto-falante tocando aquela música da garrafa que entra no cu daquele cara com aquela barriga, todo suado, fedendo, dançando com aquela mulher dele, toda suada, bêbada, com uma espuminha branca no canto da boca, uma espinha enorme e purulenta na bunda, aquela bunda que é pura desmaterialização da arte, aquele casal que, depois da praia, vai praquela pousadinha the best, comer casquinha de siri com caipirinha de kiwi e depois fazer sexo com aquelas bundas, aquelas barrigas e aquele cheiro de ovo misturado com o cheiro do bafo das caipirinhas e das iscas de peixe com molho rosé. Espetáculo do crescimento!”
Descrição tão vívida quanto essa da mediania brasileira, só no conto “Basta um verniz para ser feliz”, do Marcelo Mirisola (no livro O Herói Devolvido, ed. 34):
“O que eu gosto nele é a vida minúscula e bem-sucedida que leva. O medo de mostrar o rabo, sujar a gravata. Duarte jamais vai cagar em cima do bolo de aniversário. É do tipo que frequenta sauna finlandesa às terças-feiras e reputa uma ‘personalidade vitoriosa’ por conta e obra da colônia importada que usa depois da barba: ‘gasto mil dólares por mês com a educação das crianças’, para ele a vida é barbear rente, hipócrita e macio, ‘outros tantos em Pet-shop, treinador’; e tudo, desde o nome (ou marca, tanto faz) do ‘Colégio’ das crianças até a conta do veterinário, absolutamente tudo, poderíamos incluir plano e saúde e câncer no cu, é uma sinopse deste sentimento comprado de vitória e frescura, depois da barba. Duarte é um babaca.”