Pois se alguma nuvem carregada há no horizonte da ficção, é justamente a de uma certa demanda identitária quanto a seus personagens. Decalcada das chamadas ações afirmativas, ela sugere um desejo de legislar (via crítica, sobretudo a universitária) acerca de quem são — sua etnia, seu gênero, sua classe — as pessoas com as quais o romance deve lidar preferencialmente.
Tal cobrança costuma vir associada à crítica, esta legítima, de que falta maior diversidade de autores no Brasil, por exemplo. O equívoco é achar que mais romancistas e contistas negras ou gays sejam garantia de mais personagens com essas identidades particulares — ou, pior, exigir isso de quem escreve.
Tezza diz que “a ética da ficção é necessariamente uma ética fundada estritamente sobre minha relação com os outros, que serão a medida inescapável do que eu escrevo, mesmo que meu objeto seja eu mesmo”.
Enquanto ficcionistas de qualquer origem ou extração — se mais diversas, tanto melhor — forem capazes de ocupar o “lugar de escuta” e deixar o “lugar de fala” para seus personagens, mesmo os marcadamente autobiográficos, a ficção sobreviverá.
Christian Schwartz, hoje, na Folha. Leia na íntegra AQUI.