A notícia de que Philip Roth estaria se aposentando não me surpreendeu ou chocou. A impressão que eu tenho é de que ele estava se despedindo da escrita desde Patrimônio, lançado em 1991. Claro, foi no decorrer dos anos seguintes que ele produziu obras-primas (além de Patrimônio) como Operação Shylock, O Teatro de Sabbath e Pastoral Americana. Mas foi por isso, creio, por estar de certa forma se despedindo, por ter vislumbrado claramente o fim mais à frente, que ele escreveu uma sequência de livros tão estonteantes. Ele tinha consciência de que estava no auge, então, e ter consciência de estar no auge é também fitar o que está lá embaixo e saber que logo a descida se iniciará. O livro que assinala o momento em que ele, suspenso no vácuo, sentiu-se pronto para se deixar despencar é Fantasma Sai de Cena. Não por acaso, o livro (outro de seus melhores) é, também, a despedida de Nathan Zuckerman. Quando o li, pensei que seria o último Roth. Não foi, felizmente. Faltava ainda dar notícias da queda em progresso, do vácuo aberto sob os pés e sobre a cabeça, engolfando tudo: Homem Comum, Indignação, A Humilhação e Nêmesis. Não há chão lá embaixo. Não há nada. O final da descida é o silêncio.
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