O escritor Flávio Izhaki dedicou alguns parágrafos ao meu novo romance, Abaixo do paraíso. Autor dos ótimos De cabeça baixa e Amanhã não tem ninguém, Flávio editou dois livros meus: Paz na Terra entre os monstros e esse meu novo romance. Graças a ele, o primeiro resultou num volume menos descompensado, com nove contos e uma novela (em vez de dezessete narrativas e sabe D’us mais o quê), e o segundo foi repensado e adquiriu (espero) mais consistência. Leia abaixo o texto do Flávio.
VOCÊS PRECISAM CONHECER O CRISTIANO
por Flávio Izhaki
Parte da crítica literária brasileira sussurra, de quando em quando, que a literatura nacional contemporânea circula demais pelo próprio umbigo, seja na autoficção ou em livros sobre escritores, em geral com romances urbanos no eixo Rio-SP-Porto Alegre. Cobram, de certa maneira, que os escritores sejam também seres políticos quando fazem literatura. Justa ou não a reclamação (e não vou entrar no mérito aqui), essa parte da crítica vai adorar conhecer Abaixo do paraíso, sexto livro de André de Leones.
O romance é centrado num tarefeiro, um faz-tudo do governador de Goiás que se movimenta pelo sub mundo de quartos de hotéis baratos, pequenas negociatas, transações e favores. Um subalterno, um encarregado que se descama aos olhos do leitor, que vai deixando sua pele pelas páginas, desencontrando-se aos esbarrões, errando de cidade em cidade, de mulher em mulher, de abandono em abandono, mas sabendo onde deve chegar.
O livro começa em Goiânia, entra por Anápolis, Brasília até alcançar Silvânia. Um Brasil que o Brasil da literatura pouco conhece. Mas escrever isso é diminuir o autor e o livro. Abaixo do paraíso é um grande romance não pela temática, mas pelo arcabouço psicológico que o autor consegue transmutar para o tarefeiro Cristiano. Vocês precisam conhecer o Cristiano…
Em seu sexto livro, o autor remonta a tríade que melhor descreve suas fixações: casa, sexo e morte. De certa maneira, a temática esteve presente em todos os seus livros, mas em Abaixo do paraíso, respira-se isso como foi o caso em seus dois primeiros livros, Hoje está um dia morto, que lançou De Leones como vencedor do Prêmio Sesc de Literatura na categoria romance, e Paz na Terra entre os monstros, única coletânea de contos do autor.
Como desaparecer completamente, Dentes negros e Terra de casas vazias mostram um caminho de depuração do escritor, testando temas, personagens, estruturas narrativas fragmentadas, espaços e vozes. Neste Abaixo do paraíso lemos um autor ainda mais consciente do peso que cada palavra adquire no papel, que organiza sua narrativa de maneira retilínea, mas não plana. De Leones é capaz de desconstruir uma ação pela sua narrativa, alternado focos, perspectivas e até a velocidade do que é narrado. Um autor que chega pronto ao sexto livro. Um autor que precisa ser lido.
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Abaixo do paraíso chega às livrarias em março, pela Rocco. Leia um trecho dele AQUI e um post meu a respeito AQUI.