Numa conversa com Philip Roth (publicada em Entre nós), o escritor Isaac Bashevis Singer fala sobre o meio literário na Varsóvia dos anos 1930, antes que a Noite caísse. Havia por lá, além (óbvio) dos poloneses que escreviam em polonês, judeus que escreviam em iídiche (como Singer) e judeus que escreviam em polonês (como Schulz). Por mais assimilados que estivessem, os judeus eram encarados pelos poloneses, especialmente os mais velhos, como “intrusos”, o que os levava (os judeus de expressão polonesa) a estudar com maiores afinco e decisão a língua e a cultura de que dispunham. “Seja como for”, conta Singer, “nos anos 30, esses escritores judeus (de expressão polonesa) se tornaram muito importantes, apesar de seus adversários”. E, claro, acontecia de alguns judeus considerarem antissemitas o que esses autores mais assimilados produziam. Singer não achava que fosse o caso, até porque havia quem dissesse a mesma coisa sobre a literatura dele — ainda que, repito, escrevesse em iídiche. “Por que você escreve sobre ladrões e prostitutas judias?”, perguntavam. Ao que Singer respondia: “Querem que eu escreva sobre ladrões espanhóis e prostitutas espanholas? Eu escrevo sobre os ladrões e as prostitutas que conheço”.