Embora lamente muito a morte precoce de Roberto Bolaño, creio que 2666 não poderia ser outra coisa que não um romance inacabado. Sua qualidade tenebrosa, sobretudo no que tange aos corpos de mulheres horrendamente violadas e assassinadas que se amontoam em suas páginas, mas também às guerras europeias e ao nazismo (revisitados na derradeira parte), parece dizer respeito ao próprio Mal em andamento, operando, pela via da metástase, nos corpos do Velho e do Novo Mundos. O Mal é elusivo (ainda que brutalmente visível), e Bolaño procura cercá-lo aqui e ali, em abordagens, personagens e contextos distintos, nos livros que compõem o Livro. A incompletude de 2666 acaba por refletir a incompletude fundamental, ontológica, do humano, incompletude que não raro resulta na mais absurda violência.
Depoimento meu ao ESTADÃO por ocasião dos dez anos da publicação de 2666, de Roberto Bolaño. Outros também falaram a respeito.