Narrador não confiável em fabulação alucinante
Novo romance de André de Leones, Meu passado nazista apresenta uma radiografia satírica e raivosa do Centro-Oeste brasileiro. O autor, que surgiu na cena literária há quase vinte anos com o premiado Hoje está um dia morto, traz agora uma narrativa com linguagem alucinante que remete ao Holocausto e à Segunda Guerra Mundial, encerrados há 80 anos.
O romance encontra ecos no presente atual, quando a direita radical reassume o poder nos EUA e surgem polêmicas como a suposta saudação nazista de Elon Musk na posse de Donald Trump.
A capa do livro traz a obra Proibido nº 2 (1979), do renomado artista plástico goiano Siron Franco. O texto de orelha é assinado pelo jornalista e escritor Luiz Rebinski.
Ambientado entre os anos de 1990 e 2020, Meu passado nazista é um romance de levada satírica narrado por uma voz nada confiável. Leandro é um professor marcado por um trauma familiar devastador, mas com o qual não parece ter aprendido muita coisa. Encadeando histórias dentro de histórias, com estilos narrativos variados, ele repassa a perda do pai, o afastamento da mãe e a convivência com o avô (nazista) e a tia em Goiás, bem como a vida adulta em São Paulo. Cristian, seu melhor amigo, é um advogado de moral dúbia, filho de um rico comerciante (simpatizante de Hitler). Eleonora, namorada de Cristian, busca alguma liberdade em um ambiente machista e medíocre.
As decisões e escolhas desses personagens, relembradas e sacaneadas (inventadas?) pelo narrador, transformam o romance em uma jornada caótica e imprevisível. Leones conecta de forma única a Era Collor ao Terceiro Reich, Richard Wagner a duplas sertanejas melancólicas, e aponta a persistência do espectro nazista, que reaparece nos lugares mais improváveis.