“Vento de queimada” – orelhas

 

VENTO DE QUEIMADA, meu novo romance, está chegando às livrarias. Aí vai o texto das orelhas assinado por ninguém menos que Luisa Geisler.

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“Goiás, DF: nosso velho (centro-)oeste”, isso define Vento de queimada. Um Tarantino tropical, mas não tanto, já que é seco. Seco em linguagem, seco em personagens. Enquanto nos movemos, vamos nos aprofundando no que parece ser um grude, Brasília, Goiânia, a estrada, Silvânia, Santos, o bordel Abaporu. Descobrimos que esse grude é na verdade merda. Como já nos diz Isabel, quanto mais perto da merda melhor. Vento de queimada é a história dessa merda toda.

Acompanhamos Isabel, formada em História e portadora de uma história tão traumática quanto. Transforma outros em história. Acompanhamos o pai, capangas que mijam de porta aberta, o chefe, o meio-que-namorado de Isabel e o outro meio-que-namorado de Isabel. Ao redor deles, na poeira do Goiás e de Brasília, a terra sem lei. Desvendamos o que move os personagens de pouco em pouco. Uma humilhação num filme que envolve um cavalo. Uma vingança. Um desejo de poder, de dinheiro. Um passado obscuro. Uma gravidez indesejada. Uma vontade humana de salvar a própria pele antes de tudo. É difícil saber o que nos salva, Isabel conta. Nada.

Nessa história de personagens que precisam se virar no escuro, nos atemos ao que podemos. A Isabel. A Garcia. A Gordon. Ao velho. A Emanuel. A Clara. Mas a gente sabe que não deveria. Os fragmentos da história começam a se armar num nó que sufoca mais e mais e, na linguagem justa de André de Leones, apertam onde dói de verdade — os testículos.

A violência se monta numa linguagem tão precisa que se sente o fedor, se ouve em cada fala. A violência existe na leitura de um Brasil que é um amontoado de países estrangeiros, uns entrelugares. A violência existe nas pessoas, entrepessoas, não só em suas intenções. Os danos colaterais se abrem mais e mais em diversas direções. Entrelugares, entrepessoas, entreviolências. Os mortos na beira de estrada, as testemunhas indesejadas se centralizam, a ponto de não sabermos como chegamos ao trevo de Silvânia. Mas chegamos.

Luisa Geisler