Sobre “Daniel está viajando”

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Daniel está viajando (ed. Quase Oito), meu primeiro livro infantojuvenil, é uma história sobre perda e solidão, contada do ponto de vista de uma criança. De certo modo, perda e solidão são aliviadas pela amizade de Daniel com uma nova colega de escola e, sobretudo, pela própria imaginação do menino.

Escrevi Daniel está viajando em meados de 2012, quando terminava Terra de casas vazias. Há uma parte de Terra de casas vazias protagonizada por uma criança. É o bloco central do romance (cuja estrutura remete ao desenho da Velha Jerusalém e seus “quarteirões”), e o único narrado no tempo presente. Na época, apreciei o esforço de ver o mundo pelos olhos de uma criança e senti vontade de desenvolver outra narrativa a partir desse “lugar”.

Alguns anos antes disso, surgiu a ideia dos corpos encobrindo o sol: as pessoas morreriam e seus corpos ascenderiam fisicamente ao céu, fixando-se lá em cima. Um céu coalhado de corpos. Essa imagem seria uma forma de “presentificar” a morte, tornar a ausência algo físico, visível, e ficou perdida em um dos meus cadernos por um bom tempo. Eu me referi a ela em um texto para o Blog do IMS, publicado em julho de 2012; mais ou menos na mesma época, decidi encontrar uma forma de aproveitá-la em Daniel está viajando. Assim, entre uma revisão e outra de Terra de casas vazias, escrevi a história desse menino sensível e imaginativo que precisa lidar com a perda da avó.

No decorrer dos seis anos seguintes, enquanto trabalhava em outros dois romances (Abaixo do ParaísoEufrates), procurei por uma editora que topasse publicar Daniel está viajando. Foi uma peregrinação exaustiva, com vários “nãos” pelo caminho, tantos que pensei em desistir. Talvez a literatura infantojuvenil não fosse a minha praia, afinal. Então, quando cogitava engavetar o livro de vez, a editora Tatiana Kelly, da Quase Oito, assumiu o projeto.

A colaboração com a ilustradora Lina Nestorova foi, por certo, a parte mais gratificante de todo o processo. Ela encontrou a maneira perfeita de transmitir os ruídos entre o protagonista e a realidade, sua psique fraturada pela perda, por assim dizer. Sem as soluções encontradas pela Lina, é muito provável que o tom do narrador resultasse por demais alquebrado, árido. Creio que, sem ela, a história não funcionaria. Lina calçou Daniel para a viagem.

Daniel está viajando será lançado na semana que vem. Estarei em boa companhia, como vocês podem ver pelos convites abaixo. Todos estão convidados. Quem não puder ir e quiser comprar o livro, basta clicar AQUI.

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