A Amazon e três agentes literárias brasileiras (Lucia Riff, Luciana Villas-Boas e minha queridíssima Marianna Teixeira) estão lançando a coleção Identidade. São trinta contos de autores brasileiros contemporâneos, vendidos de forma avulsa (por R$ 1,99) ou em três coletâneas com dez narrativas cada (R$ 9,90). Assinantes Kindle Unlimited não pagam nada. Leia mais respeito na Babel.
Meu conto se chama Pessoas Bacanas e pode ser adquirido AQUI (avulso) ou AQUI (coletânea Agência MTS). Um trecho:
Foi um pouco antes da Copa de 2010, e uns meses depois que soltaram a minha irmã. A mãe saiu do hospital e, naquela época, apesar de tudo, eu realmente achava que as coisas iam se endireitar.
A escola tinha entrado em greve e eu ganhava uns trocados trabalhando com o meu tio. A ideia era aprender alguma coisa, mas o máximo que acontecia era eu perder dias inteiros em filas de banco ou correndo pela cidade em busca de uma ou outra peça que ele precisava para arrumar os carros. A oficina vivia cheia, mas acho que, no fundo, meu tio não queria que eu virasse mecânico. Estava sempre falando sobre o quanto era importante estudar, por exemplo. Depois do expediente, ele me chamava para comer alguma coisa no pé-sujo mais próximo e desandava a falar essas coisas. Eu ouvia e concordava com a cabeça, mas depois me lembrava da escola, de toda aquela bagunça, de como era difícil me concentrar no falatório dos professores e nos livros e coisa e tal, e sentia uma preguiça desgraçada. Também não me agradava a ideia de virar mecânico, passar o dia inteiro sujo de graxa, enfiado debaixo dos carros, fuçando em toda aquela porcariada, e então a preguiça virava uma angústia que me sufocava. Eu não tinha lá muitas opções, e sabia disso.