Trecho de Ravelstein, de Saul Bellow:
As coisas não chegam a acontecer se não acontecem em Paris, ou se Paris não fica sabendo. Aquela velha fornalha em erupção, Balzac, estabeleceu que isso era um princípio. O que Paris não havia examinado nem mesmo existia.
É claro que Ravelstein conhecia demais o mundo moderno para concordar com isso. (…) A França, que pena, não era mais o centro do julgamento, das luzes. A França não era o lar do ciberespaço. Não atraía mais os grandes intelectuais do mundo e todo o resto do schtuss cultural. A França tinha tido sua época. De Gaulle, a girafa humana bufando. Churchill dizendo sobre ele que a ofensa da Inglaterra tinha sido ajudar la France. A imponente criatura militar observando a copa das árvores do mundo moderno não podia aceitar a ideia de que seu país precisava de ajuda.
A mente de Abe nunca ficava sem citações para preencher as lacunas ou para documentar a época. “‘A França sem um exército não é a França’ — Churchill de novo.” O meu gosto para conversas era parecido. Eu não conseguia fazer o mesmo, mas adorava ouvir quem conseguia. Ravelstein era infinitamente melhor nisso. Ele tinha um talento especial pela Grande Política. Nesse sentido, é claro, a França hoje estava falida. Só restava o hábito, e eles faziam o máximo que podiam com isso mas estavam blefando, e sabiam que estavam falando bobagem. (…)
Em A Conexão Belarossa. Tradução de Caetano & Rogério Galindo. Cia. das Letras, 2015.