Abaixo do paraíso, meu quinto romance, já está em fase final de produção (miolo aprovado; no momento, definimos a capa). A previsão é que seja lançado em março, pela Rocco. (Leia um trecho AQUI e outro AQUI.)
Eu o escrevi entre janeiro de 2013 e janeiro de 2015. Ou seja, faz um ano que o dei como terminado e enviei para a editora. Lá, no decorrer do primeiro semestre do ano passado, foi lindamente editado por ninguém menos que Flávio Izhaki, responsável por uma sucessão de leituras críticas e sugestões que, é claro, acatei e (creio) só tornaram o livro melhor.
Foi um romance bem mais tranquilo de escrever que o anterior, Terra de casas vazias, que consumiu três anos e dois meses da minha vida e, por vezes, parecia um quebra-cabeças que eu jamais conseguiria montar. Alternava momentos de intensa produção (e animação) com outros nos quais eu queria fazer qualquer coisa, menos escrever. Aquela foi uma sensação inédita para mim, e eu cheguei a pensar em me dedicar a outra atividade. Cogitei desde a pesca submarina até a pistolagem, passando pelo retorno ao magistério e pela metalurgia. Em julho de 2012, contudo, ao final de um surto produtivo permeado por crises asmáticas, pornografia virtual e ao som da Quarta de Bruckner (a Romântica), consegui dar um ponto final em Terra de casas vazias, bebi uma garrafa de vinho, peguei no sono e só fui acordar em janeiro de 2013, largado no sofá e com um belo torcicolo. Levantei-me, tomei um banho, comi alguma coisa, peguei um caderno novo e comecei a escrever Abaixo do paraíso. (Ok, talvez eu tenha deixado passar alguns detalhes nessa reconstituição, mas os fatos não estão muito longe disso.)
Em muitos sentidos, Abaixo do paraíso é uma espécie de desdobramento do romance anterior. Não estruturalmente (Terra não tem um protagonista, mas vários, e alude ao desenho urbano da Velha Jerusalém em sua fragmentação meio autista, ao passo que Abaixo tem um protagonista e um desenrolar vetorialmente único, por assim dizer), mas em seu tom (compassivo, compassado) e nos termos de uma discussão de cunho moral acerca do nosso lugar em relação ao outro, inclusive (e socraticamente) entendendo a si próprio como um outro com quem primeiro dialogamos.
O protagonista, Cristiano, é um tarefeiro, um aspone, alguém responsável pelo tipo de serviço escuso que alimenta a nossa paupérrima República e confunde mundo e submundo, revelando-os como ambientes de um mesmíssimo — e apodrecido, repleto de infiltrações — edifício político. Cristiano é o sujeito que, nas eleições, vai ao interior oferecer combustível de graça para que os locais encham o tanque e engordem as carreatas de campanha; é o nobre funcionário que leva a amante do secretário da educação ao dentista; é o homem de confiança que se enfia num quarto de hotel vagabundo para se encontrar com outro homem de confiança, e envelopes trocam de mãos, algo vendido ou comprado; é um dente nessa engrenagem, uma peça no maquinário republicano. Então, algo acontece, e ele precisa fugir, esconder-se. O reencontro com a família (pai, madrasta, meia-irmã, tia) aponta para um ressituar-se, mas nada é assim tão simples. Cristiano deve voltar a si antes de se voltar para o outro, sob pena de confundir tudo. Ele se esforça. E é tal esforço que acompanhamos na segunda metade de Abaixo do paraíso.
Não seria inteligente falar mais (e talvez não tenha sido inteligente falar tanto) sobre o romance. Importa que, em breve, ele estará à disposição dos leitores. Haverá outros posts de divulgação, neste espaço e também no blog da editora.
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