Vendo o belo Gravidade, de Alfonso Cuáron, quase lamentei quando a personagem de Sandra Bullock afinal retornou à superfície terrestre. Porque em meio às atribulações sofridas por ela, lançada no espaço, incomunicável e com chances muito remotas de sobreviver, o que mais chamou a minha atenção foram justamente os momentos de silêncio e contemplação. O vácuo tem essa potência esmagadora, e é curioso notar como ela só começa a acreditar na (ou, ao menos, trabalhar pela) própria salvação depois de aceitar a própria morte. Foi por aí que adentrei o filme. No começo, referindo-se ao silêncio sideral, ela comenta como poderia se acostumar com ele. Depois, no auge da desolação, embora não haja referência àquele silêncio exterior, ela consegue se acalmar na medida em que aceita o silêncio último, incontornável. Pelo menos até o momento em que ocorre uma intromissão pouco sutil, mas necessária para o andamento da trama, aquela é talvez a cena mais bela de todo o filme. Cuáron, com uma inteligência visual embasbacadora (a fotografia é de Emmanuel Lubezki, parceiro de Terrence Malick), fazendo coisas como entrar e sair da câmera subjetiva no corpo de um mesmo plano-sequência, oferece algo semelhante a uma experiência de além-morte: por um segundo ou dois, você não existe mais, ao redor só há destroços e não há mais sentido em falar sobre acima ou abaixo, esquerda ou direita, passado ou futuro. É o não-ser em toda a sua glória.
Sobre "Gravidade"
- Autor do post De André de Leones
- Data do post
- Categorias Em Coisas que a gente vê no escuro
- Tags "Gravidade", Cinema