Achei estupendo o final de Mad Men. Há enormes mudanças (fugas, deslocamentos, declarações de amor, rompimentos, mortes), mas também a sensação de que tudo gira para voltar ao mesmo lugar. Afinal, não é uma série sobre o tempo (que nos ignora e por isso mesmo nos mata), mas sobre a época: os anos de 1960 (“revolucionários”, JFK, lisérgicos), que dão lugar à década seguinte (“reacionária”, Nixon, cocainômana). Assim, me parece particularmente feliz a sacada final, onde o sorriso de Don Draper dá lugar ao comercial da Coca-Cola (criado por ele, presumo, após seu retorno à Madison Avenue) que mastiga e cospe o mimimi hipponga de pouco antes. Claro, não se pode subestimar a catarse da cena anterior, em que ele afinal parece se enxergar no outro. Ocorre que esse enxergar-se não significa muito, afinal. O autoconhecimento produz monstros. O sorriso de autossatisfação aponta para o retorno do mesmo; o comercial da Coca-Cola é uma obra-prima.
Coca
- Autor do post De André de Leones
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