Hoje, em "O Globo": MC SAPINHO DE ISRAEL

A edição de hoje de “O Globo” traz um texto que escrevi quando ainda estava em Israel, sobre um funkeiro carioca que vive e trabalha e faz sucesso por lá. Conforme o blog do Prosa & Verso:

O escritor André de Leones, autor de “Hoje está um dia morto” e “Paz na terra entre os monstros” (Record), assina um perfil do funkeiro carioca Sandro Korn, mais conhecido como o MC Sapinho de Israel. Autor de músicas como “Bonde do Elyahu Anavi”, “Retorno de Jerusa” e “Mosaico e o Caldeirão”, ele faz sucesso em Israel misturando referências judaicas com o ritmo dos morros do Rio.

Abaixo, o trecho inicial do texto. Para ler na íntegra, faça como eu: corra até uma banca e adquira um exemplar do jornal. Em tempo: eu já tinha publicado bem AQUI um post sobre o MC Sapinho de Israel.

A luz não é das melhores, mas é possível ver o que está à frente e ao redor sem muitos problemas. No palco, o cantor, duas dançarinas e o DJ com a parafernália de praxe. A galera dançando ao ritmo do funk carioca pode dar a impressão de que estamos na Cidade de Deus ou no Andaraí, mas não é o caso.
Estamos no Rich Bar, em Tel Aviv, em pleno verão israelense. Na platéia, brasileiros residentes ou de passagem pelo país cantam todas as músicas, coisa que não intimida os nativos e outros presentes no local. Pelo contrário: graças à música, a pequena Babel improvisada acaba por se tornar uma mesma e única festa, como se todos ali farreassem juntos há tempos. Alguém poderia argumentar que se trata de uma característica da noite de Tel Aviv, cidade que, juntamente com a libanesa Beirute, é a mais cosmopolita do Oriente Médio, um ambiente secular se comparado ao de Jerusalém. Mas isso não importa. À medida que cantor, DJ e dançarinas incendeiam o lugar com uma sucessão de hits reconhecíveis mesmo por aqueles que não curtem a batida, a impressão de estarmos em um autêntico baile funk no coração da noite carioca é inescapável.
Majestoso, gorducho, quem está no centro do palco fazendo o seu terceiro show naquela noite é o MC Sapinho de Israel. Careca coberta por um boné, camiseta larga e calça jeans, enfileira frases e versos em português e hebraico. Está em seu elemento. O público percebe e canta com ele versos como: “Na minha casa / O mal não vai entrar / Tem a Bíblia e o Alcorão / E na porta o Mezuzá”. Todos ali parecem concordar alegremente que “O bonde mais sinistro / É Jerusa e Nazaré”. Assim, MC Sapinho segue, em suas palavras, “introduzindo a cultura do funk” na pátria de Amós Oz e Shimon Peres. É provável que estes não saibam ou venham a saber do que é que se trata, mas, a julgar pelo número crescente de shows, não é loucura imaginar que os israelenses em geral logo estarão familiarizados com o ritmo engendrado na periferia do Rio de Janeiro.