Wolf e a falácia da superioridade moral

No turno decisivo, votarei no Poste em detrimento do Cachorro, embora a essa altura (ainda é cedo) pareça improvável que o primeiro mije no segundo. Enquanto não chega o momento de retornar à minha seção eleitoral, sugiro a leitura deste ótimo ensaio de Eduardo Wolf em que é desmontada a falácia da superioridade moral dos que votam convictamente tanto no Cachorro quanto no Poste. Abaixo, dois trechos. Leia na íntegra AQUI.

Sobre os eleitores de Bolsonaro:

Esses eleitores, ao atestarem sua consciência do iliberalimso antidemocrático de Bolsonaro e, a isso, adicionarem a crença em uma superioridade moral em sua escolha por essa alternativa, estão afirmando que o elogio a ditaduras, o louvor a torturadores, o desrespeito sistemático, planejado e continuado às instituições que constituem uma democracia (Congresso, partidos, liberdade de imprensa, respeito ao adversário político, que jamais deve ser tratado como um inimigo, e pesos e contra-pesos que impeçam uma tirania da maioria sobre a minoria) são, política e moralmente falando, ou bem secundários, ou bem irrelevantes. Alguns desses eleitores o fazem com certa discrição, tergiversando, esquivando-se do ponto central, mas não conseguem se evadir de todo do dilema moral: não consideram moralmente problemática a defesa explícita de um discurso iliberal, autoritário e antidemocrático. Outros, ainda mais ousados, fazem pior: é porque o discurso é iliberal, autoritário e antidemocrático; é porque o candidato pratica revisionismo histórico e transforma torturadores em heróis, ditadores em ícones, violência em atitude política, perseguição a inimigos em prática corrente e ataque à imprensa em demonstração de coragem que votam nele e consideram esse todo moralmente superior. Assim, pior do que serem secundários ou irrelevantes, os valores do liberalismo, da democracia e do pluralismo são francamente negados, reputados como negativos.

E acerca dos lulopetistas:

O PT não foi apenas aliado político de todas a ditaduras de esquerda (ou vagamente populistas e nacionalistas) ao longo de seu período no poder, protagonizando momentos dolorosamente constrangedores para os que defendem os direitos humanos, como foi seu financiador efetivo, articulando Caixa 2, verbas públicas (BNDES) e propinas para alimentar campanhas e governos em Cuba, Venezuela, Nicarágua e ditaduras africanas. Que moral tem o eleitor petista para falar em ditadura e tortura quando, entra ano e sai ano, o seu partido continua defendendo com unhas e dentes a carcomida ditadura bolivariana da Venezuela, uma das maiores tragédias humanitárias em escala global, hoje? Que moral superior pode ter um eleitor que cegamente deposita sua confiança em um partido que, no governo, conseguiu a façanha de apoiar o regime linha dura antissemita, homofóbico e racista de Ahmadinejad no Irã, com suas práticas de execuções de homossexuais enforcados em guindastes e exibidos em locais públicos?