A reserva como um raro talento (ou paixão)

(…) Sem querer, Sebastian se deu conta, com, talvez, uma espécie de desamparada surpresa (porque ele esperava da Inglaterra mais do que ela podia lhe dar), que por mais sábia e docemente que seu novo ambiente realizasse seus velhos sonhos, ele próprio, ou, melhor, a parte mais preciosa dele mesmo, permaneceria tão desesperançosamente sozinho como sempre fora. A tônica da vida de Sebastian era a solidão e o destino mais gentil o fazia sentir-se em casa simulando admiravelmente bem as coisas que pensava que queria, quanto mais consciente ficava de sua inabilidade de se encaixar no quadro geral — em qualquer quadro geral. Quando finalmente ele entendeu isso plenamente e começou a cultivar inflexivelmente a reserva como se fosse algum raro talento ou paixão, só então foi que Sebastian se satisfez com seu rico e monstruoso crescimento, deixando de se preocupar com sua inábil incompatibilidade — mas isso foi muito depois.

Trecho de A Verdadeira Vida de Sebastian Knight, de Vladimir Nabokov (trad. de José Rubens Siqueira).