Na serenidade e na pompa

PriebkeHochzeit

“(…) Como fizera com grupos de judeus alemães convertidos ao catolicismo às vésperas do início do genocídio, no pós-guerra o Vaticano colocou sob sua proteção antigos oficiais (nazistas), altos burocratas do partido (nazista), ex-dirigentes de grandes empresas, cujas burras tinham sido abarrotadas pelo esforço de contingentes aparentemente inesgotáveis de trabalhadores escravos, encaminhando-os para postos de trabalho respeitáveis em cidades como Buenos Aires e Mendoza, Assunção, La Paz ou (…) Santa Cruz de la Sierra, onde os esperavam cargos em empreendimentos impecavelmente organizados, não obstante o ambiente caótico e imprevisível das cidades latino-americanas (…). Para essas localidades dirigiram-se, na serenidade e na pompa dos transatlânticos que desafiam todos os mares e todas as tempestades, e de lá para o conforto de aposentadorias bem fornidas, beneficiados, na dignidade de sua idade avançada, por temporadas em balneários, termas e estações de águas, as quais, tinham certeza, haveriam de fazer parte, um dia, outra vez, do Reich, como Karlsbad, na Tchecoslováquia, ou Dorna Vatra, na Romênia. Graças a nomes falsos e passaportes estrangeiros, concedidos de boa vontade pelos países hospitaleiros cujas juntas militares os acolhiam, visitavam, também, suas cidades natais, na Alemanha desnazificada, onde encontravam antigos camaradas de fileiras em comemorações que se estendiam noite adentro, onde visitavam parentes convenientemente esquecidos de antigos sonhos alemães, apaziguados pelo Wirtschaftswunder, pelo milagre econômico. (…)”

Trecho (p. 66-7) de Bazar Paraná (Benvirá),
romance de Luis S. Krausz.