Oroboro.

No final de 2010, fui contemplado com uma bolsa do Programa Petrobrás Cultural por conta de meu romance (ainda em progresso) “Terra de casas vazias”. Ele provavelmente será lançado pela Rocco em meados do ano que vem.

Uma das contrapartidas para justificar a grana que venho recebendo para escrevê-lo é divulgar alguns trechos aqui no blog e também falar um pouco sobre o tal do processo criativo. São coisas que eu faria (no caso dos trechos, venho fazendo) independentemente do contrato de patrocínio que assinei, mas não custa nada oficializar o troço.

Comecei a esboçar esse romance lá em Jerusalém, em maio de 2009, e venho trabalhando nele desde então, com interrupções (para revisar “Como desaparecer completamente“, romance lançado pela Rocco em 2010, escrever alguns contos, uma peça teatral que foi encenada em 2011 e, claro, dar conta de algumas resenhas e outros trabalhos).

Tenho aqui um caderno Tilibra Opus, capa vermelha, com as primeiras páginas que rascunhei. O título e a epígrafe ficaram, bem como a vontade de situar parte da narrativa em Jerusalém. O resto mudou e vem mudando um bocado, como não poderia deixar de ser, ainda que o projeto original permaneça inalterado.

Um romance bem disperso no tempo (1986, 2007, 2009) e no espaço (Brasília, Silvânia, São Paulo, Jerusalém, Goiânia), com um bom número de personagens errando por aí. Não, não consigo fazer uma descrição menos cretina, por mais que eu tenha em mente que qualquer romance possa ser descrito mais ou menos desse jeito.

Há um assessor parlamentar e a esposa viajando para Jerusalém a fim de superar uma perda recente, um policial lidando com casos que nunca se resolvem ou se resolvem sozinhos, à sua revelia, uma garota ensaiando uma jogada no melhor estilo Richthofen, um marujo irlandês seduzindo uma coroa goianiense, enfim, uma pequena multidão se acotovelando pelo livro afora.

Se me perguntarem, consigo identificar claramente as razões pelas quais escrevi todos os meus livros até aqui. “Hoje está um dia morto” é a reação visceral e previsível aos meus anos de (de)formação no interior. “Aneurisma” (novela que fecha “Paz na terra entre os monstros”) nasceu de uma vontade consciente de brincar com a metalinguagem, essa coisa tão 2006. “Como desaparecer completamente” foi uma encomenda. E “Dentes negros“, a minha tentativa de escrever um romance de gênero (ou subgênero, tanto faz).

Não consigo situar “Terra de casas vazias”, e isso é meio desesperador. Mesmo assim (ou justamente por isso), sigo escrevendo meio que no escuro, levando as histórias que surgem até onde é possível ou aceitável ou, em alguns casos, suportável levá-las.

Você pode ler trechos de “Terra de casas vazias” clicando AQUI, AQUI e AQUI. Mas, claro, encare como rascunhos, work in progress.