Arranha-céu.

Algumas coisas que me ocorreram depois de ver A Árvore da Vida, de Terrence Malick.

1. Acho que eu percebi que estava diante não “apenas” de um grande filme, mas de uma obra-prima, quando, às perguntas dolorosamente feitas pela mãe (Jessica Chastain) que há pouco perdera um filho, perguntas, é claro, direcionadas a Deus, onde você está?, por que não fala comigo?, por que não me responde?, Terrence Malick contrapõe, por meio de um maravilhamento sonoro e visual que eu torci para que perdurasse para sempre, a Criação.

2. A estupenda capacidade de Malick de nos situar em qualquer lugar em questão de segundos, seja a uma mesa de jantar violentamente familiar onde a presença do pai é tão acachapante que até mesmo Brahms parece nos sufocar, seja em um encontro furtivo entre dois seres pré-históricos.

3. Não há maneirismos em “A Árvore da Vida”. Para um filme tão enamorado do Divino, me parece bastante óbvio que cada mísero plano tem de obrigatoriamente ser o mais luminoso e deslumbrante possível. E a câmera sempre arruma um jeito de apontar para cima, para o alto, para o céu, seja seguindo o tronco e os galhos de uma árvore como se eles estivessem prestes a alçar voo, seja de dentro de um elevador em um arranha-céu.

4. “Be quiet. Please.” R. L. (Laramie Eppler), o filho do meio, de temperamento artístico, das aquarelas e do violão, doce, o filho que vai morrer, ele diz essas palavras ao pai (Brad Pitt) e o caos doméstico irrompe. A minha infância inteirinha resumida em uma cena.

5. A violência do pai se instala no filho e o molda. Jack (o intenso Hunter McCracken quando criança; depois, Sean Penn) diz ao pai: “Sou tão ruim quanto você”. Ironicamente, isso é dito em uma das raras cenas em que pai e filho conversam de verdade, ou em que o pai, pelo menos, revela algo de si, demonstra alguma fragilidade.

6. O mexicano Emmanuel Lubezki filma como se Deus tivesse dito FIAT LUX! hoje de manhã. É mais fácil ser convertido pela beleza dos enquadramentos sempre vazados de luz que pelas palavras algo engessadas ditas por um pregador em seu púlpito. O homem fala sobre Jó, sobre perder tudo mesmo sendo bom. Deus é quem sabe.

7. O pai diz aos filhos, diz e repete, ser íntegro não é um bom negócio, ser competente demais não é bom, a saída é ser medíocre, passar despercebido, deixar-se levar. O pai diz isso aos filhos, mas faz justamente o contrário. Depois, naquela cena em que revela algo de si, a única descoberta que fez, a única coisa que aprendeu: não realizei nada, não fiz nada. Só vocês.

8. O pai devora os filhos. Deus está ao redor.